sábado, 22 de junho de 2013

Mídia brinca com fogo, amanhece molhada, e agora quer apagar o incêndio


Quem não foi às manifestações e acompanhou tudo pela mídia deve estar com vontade de se esconder debaixo da cama. Afinal, vândalos vindo de todos os lados estão quebrando tudo indiscriminadamente. Esse é o recado que a mídia quer passar. Não vá a manifestações, é perigoso. Você pode se machucar. Foi bonito se manifestar, mas já deu.

A relação da mídia com os últimos protestos teve três momentos. No início das mobilizações, os canais de televisão e os jornais defendiam a repressão. Um editorial do Estado de São Paulo pedia atitudes enérgicas contra os manifestantes.

Depois que a população começou a aderir, a mídia mudou de rumo. A repressão a jornalistas e a chance de desgastar o governo Dilma foram fatores que contribuíram para que os jornais e a TV passassem a “apoiar” as manifestações. Desde que, é claro, elas fossem despolitizadas e se limitassem ao combate a corrupção.

Agora a mídia espalha o pânico e quer que as pessoas voltem para casa com medo. Afinal, o grande problema do país são os vândalos que acabam com as manifestações. Não é a inércia do Poder Público em atender as reivindicações do povo. Não é polícia que reprime. 

As depredações não fazem sentido. De fato, desgastam a manifestação. Mas porque pautar as reportagens nisso? A mídia não poderia pautar as reportagens na postura dos governos, que até agora não ouviu a voz das ruas? As manifestações não interessam mais os grupos de mídia, pois a própria mídia começou a ser questionada.

Mitos sobre o “vandalismo”
Nem todo ato mais radicalizado é vandalismo. Na segunda-feira, um grupo ocupou a parte de cima do Congresso Nacional em Brasília e foi lindo. Ninguém se machucou, nada foi depredado. Fechar faixas de trânsito é algo natural em manifestações. Mas para um setor dos manifestantes, tudo é “vandalismo”. Só não é vandalismo agredir uma pessoa por estar exercendo seu direito democrático de levantar a bandeira de seu partido. Aí pode descer o pau.

Quem não quer participar dos atos violentos sofre riscos, mas não da forma que a mídia coloca. Pode ir para rua, gente! Na maioria das vezes,o maior perigo é inalar um pouco de gás lacrimogênio. Nada que o já famoso vinagre não resolva. Quando tem confusão, o “bloco” de quem quer o pau e o resto da manifestação se separam. A maioria senta no chão e grita “sem violência”.

As ações da polícia não são pautadas só pelo vandalismo. Nos atos perto do Congresso Nacional, quando dá 10 e 30 da noite, independente de violência ou não, a polícia dispersa as pessoas com gás. É o medo do pessoal decidir acampar, como foi feito em outros países. Em alguns casos, os próprios policiais provocam a confusão. Eu mesmo já me deparei com um deles me encarando de maneira ameaçadora, esperando eu fazer algo. Obviamente, me mantive de cabeça fria.

Ademar Lourenço
de Brasília 

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