sábado, 23 de novembro de 2013

Crack: questão de Saúde Pública na Favela ou de Segurança para o Estado?

por Maximiano Laureano da Silva, da Redação.

  Foto: Fabiene Cavalcante /jornal O Cidadão Comunicação Comunitária.
Depois de a prefeitura do Rio de Janeiro agir com uma política clara de desrespeito aos direitos humanos, guiada pela mídia corporativa,  sobre como lidar com os usuários de Crack, aconteceu algo previsível.

Em resposta a uma reportagem da rede Globo, mostrando um provável usuário de Crack atrapalhando o trânsito na altura da favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, a PM do Rio de Janeiro mobilizou vários homens do Batalhão de Choque, BOPE, além de policiais civis, e invadiram a favela. Uma  mega operação recolheu aproximadamente 100 usuários de crack (entre eles idosos, crianças e uma grávida) na favela Nova Holanda, no  Rio de Janeiro,  dia 19/11.

Horas depois, a foto que ilustra este artigo foi tirada. Ela mostra que em pouco tempo depois, tudo estava como antes.

Locais conhecidos como pontos para o consumo de drogas, as favelas Parque União e Nova Holanda, na altura da Avenida Brasil, são alvos constantes de ações da prefeitura para o combate ao crack, desde outubro de 2012. As operações  começaram após a ocupação da polícia nas favelas de Manguinhos e Jacarezinho, onde muitos usuários de drogas se concentravam.  

Essas ações mostram que as políticas de Segurança e Saúde pública para negros e favelados, usuário de Crack não funcionam, nos moldes previstos e planejados pelo Estado brasileiro.

Os usuários ficavam como gado a espera do abate, em plena Avenida Brasil, consumindo e sendo consumidos pelo seu vício.

Ninguém duvida que o crack, é hoje um grave problema social e de saúde. E por sua gravidade, necessita de soluções efetivas, o que demanda a revisão das políticas de drogas vigentes.

O crack, devido à facilidade de ser encontrado e  ao  baixo custo, é atualmente uma das drogas mais procuradas. Seu formato é de pedra e custa menos do que a cocaína em pó, sua matéria prima, por ser uma mistura grosseira de pasta com bicarbonato de sódio. Ele alcança o pulmão, o qual absorve imediatamente a fumaça aspirada,  encurtando o caminho para chegar ao cérebro, causando os efeitos da cocaína muito mais rápida e intensamente do que pelas vias nasal e endovenosa.

Segundo estudos do CEBRID – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas de 2003, o usuário tem a tendência de querer doses maiores em busca de efeitos mais intensos. Porém, tais doses maiores também levam a um comportamento mais violento, irritabilidade, tremores e atitudes bizarras, devido ao aparecimento de paranóias (noia para os viciados).

 Parte da sociedade se pergunta, talvez, porque eles não procuram ajuda? Porque eles não deixam as pessoas ajudá-los? Outros podem pensar: “Mas e daí? qual o problema em se invadir uma favela, atrás de viciados? Eles nem  são gente, parecem mais "Walking Dead" ; entram na lista de " Zé Ninguéns…”
 Quando sob o domínio do crack, muitos viciados se isolam e, mesmo que temporariamente, se tornam indigentes. A substância transforma o usuário e o mantém arredio, impossível de manter relações com parentes e amigos, chegando a afastá-lo do trabalho. Em alguns casos, a degradação pode dar-se em poucas semanas.

Há a  urgente necessidade de expansão da rede de atendimento extra-hospitalar e dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e o funcionamento 24 horas desses centros, assim como é necessário pensar  o cuidado e o resgate aos usuários de crack.É muito importante que os CAPS sejam referência de cuidado e atendimento. Estamos falando da construção de um atendimento integrado, contemplando a dimensão da saúde mental, com assistência social e geração de renda.
É fundamental  um amplo atendimento para resgate e cuidado aos usuários de crack. Essa questão passa pela construção de um Plano de Ação Municipal para cuidado especializado para usuários de crack, e não simplesmente pela politica higienista da Internação Compulsória, ou intervenção policial,  mascaradoras da real situação dessa calamidade pública.

 É necessário termos uma dimensão do problema, para aplicarmos a política com qualidade, para que sejam as mais adequadas para o cenário atual.Coisa que as políticas públicas dos governos do PMDB(governador Sérgio Cabral e o prefeito Eduardo Paes), parecem não querer ou saber fazer.

Segundo dados do Ministério Público do estado do Rio de Janeiro de 2012,  há  6,3 mil pessoas em situação de rua, sendo cerca de 600 identificadas no perfil de demanda de um tratamento mais intensivo, decorrente do uso do crack.

No capitalismo e, na nossa democracia normativa de mercado muitos não podem, simplesmente, serem senhores do seu destino. Não se escolhe viver na encosta do morro, sem água ou saneamento e sobreviver de subempregos como não se escolhe – pelo menos a maioria dos drogadictos – entre usar esta ou aquela droga ou não usar. É uma questão de excessiva oferta – de drogas – combinada com a falta de escolhas ou perspectivas. 
Elas muitas vezes estão incorporadas as comunidades – junto com o tráfico  e o crime – como a ausência e omissão do Estado – a não ser pela polícia. Numa tradição avessa a democracia, autoritária e subserviente aos senhores e/ou poderosos do dia, a corda sempre vai arrebentar do lado mais fraco – indivíduo e sociedade. A escala deve ser invertida na hierarquia de responsabilidades com relação ao problema do crack e das drogas pelo simples motivo de que se trata de uma questão de saúde e segurança públicas.

 O crack hoje se impõe como um desafio para as políticas públicas. Não só pela quantidade, uma vez que o número de casos de alcoolismo é bem maior — e ocupa cerca de 70% dos atendimentos dos Centros de Atendimento Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) — mas porque é preciso encontrar uma nova estratégia de atuação.

Como em sua maioria são trabalhadores, ou filhos destes, o Estado demorou a ter políticas públicas para estes, até perceber que os filhos da burguesia também estão viciados. E os que estão executando nada mais são do que maquiagem, numa prática higienista lamentável, sumindo com os usuários, dos olhos da classe média assustada.

O crack é uma droga que provoca uma dependência química rápida e devastadora e a forma de tratar com este tipo de usuário está desafiando os setores de atendimento da saúde, educação, assistência social, juventude e segurança. A política de redução de danos, que trata o usuário de drogas e álcool ainda durante o uso das substâncias, não se aplica ao crack, pois o viciado não raciocina e dificulta qualquer tipo de abordagem ou intervenção.

Infelizmente há uma imensa dificuldade de instituir tratamento nos usuários, porque a droga muda as suas prioridades. Medo e desconfianças crescentes, são consequências desse estado que leva os/as usuários/as a situações de extrema agressividade. Alucinações e delírios podem aparecer e completar um quadro que é conhecido como “psicose cocaínica”, acabando por fazer o usuário não aderir ao tratamento da forma necessária.  A partir  disso, a opção pela internação compulsória, e normalmente violenta, pode ser a pior escolha em casos como esses.  

A inócua e ineficiente mega operação da PM, somente para mostrar resultados para "inglês ver" na TV,  parece comprovar essa teoria, infelizmente.

Também não é possível acabar com a violência, aumentando o policiamento da cidade, pois isso em nada afeta as causas reais da violência e do consumo da droga, que são as profundas desigualdades sociais em que estão imersos nossos trabalhadores,além da falta de moradia, de saúde, de educação de qualidade o desemprego que coloca a juventude pobre e negra com uma única perspectiva: o tráfico de drogas.

Hoje é imprescindível a adoção de muito mais investimento na saúde e de uma nova política sobre drogas que descriminalize e trate o usuário,  e ponha fim à “guerra ao crack”, além de mais investimento na educação em todos os níveis.

Um comentário:

  1. O crack é um problema no mundo inteiro. A recuperação de um usuário em 100% é impossivel, uma pessoa dependente de crack não consegue mais voltar a vida normal.

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