especial para a ANOTA
Fachada do Centro de Cultura Domingos Vieira Filho |
No mês da consciência negra o tema para a coluna de turismo e viagens será o Centro de Cultura Domingos Vieira Filho, que fica no centro histórico de São Luís do Maranhão. Localizado em um prédio de três andares, no número 221 da Rua do Giz, é um espaço dedicado à cultura maranhense. Mesmo não sendo dedicado exclusivamente para a cultura negra, ao caminhar pelas galerias fica clara a contribuição deste povo ao cotidiano maranhense.
Ali estão representadas as principais danças e manifestações religiosas do Maranhão. Entre as danças estão Bumba-meu-boi, tambor de crioula, tambor de taboca, dança do lelê, tambaê de caixa, cacuriá, dança do coco, carnaval, careta-reisado da cidade de Caxias. As religiosidades presentes são o Tambor de Mina, a Festa do Divino Espírito Santo, ex-votos, santos, presépios, religiões afrobrasileiras.
No local há pinacoteca, biblioteca, espaço para eventos e para exposições temporárias sobre a cultura maranhense.
Escadaria do Centro Cultural Domingos Vieira Filho |
Na galeria da entrada ficam em destaque exposições temáticas temporárias sobre a festa da época. Em junho, quando visitei, estava em destaque o Bumba-meu-boi.
Cenário da Festa do Divino |
Para quem não conhece, o enredo da festa de Bumba-meu-boi é o mesmo todos os anos, e representa ludicamente a relação entre as três origens do povo brasileiro. A negra Catirina grávida sente desejo de comer a língua do Boi Mimoso, preferido do dono da fazenda. Seu marido Francisco mata o boi para atender ao pedido da esposa, mas acaba preso pelo "patrão". Assim, conta com a ajuda de curandeiros indígenas na mata para fazer ressuscitar o boi, encerrando a encenação com uma grande festa.
Bumba-meu-boi em São Luís |
Ou seja, cada um no seu papel ilustra o mito da democracia racial no Brasil, em que embora todos festejem juntos, o papel de dominador e dominado inerente a cada "raça" fica bem claro. No Centro de Cultura é possível ver as vestimentas típicas de cada personagem em suas versões e variações.
Roupa de Bomba-meu boi |
No segundo andar estão as vestimentas e outros objetos utilizados na Festa do Divino. Embora a mais famosa expressão maranhense da festa é a realizada na cidade de Alcântara, as que não contam com o apoio do governo para serem organizadas são celebradas principalmente em terreiros e com a participação quase exclusivamente feminina.
Roupa de Bumba-meu-boi |
Há várias salas dedicadas às religiões de afrobrasileiras. Há vitrines com os trajes utilizados nos cultos e maquetes dos principais terreiros de São Luis, alguns ainda em funcionamento. Como nos locais de culto nem sempre é permitida a visita por quem não está participando, visitar o Centro Cultural pode ser uma das únicas formas de aprender sobre eles.
Roupas cerimoniais de religiões afrobrasileiras |
Uma das formas com que o racismo se manifestou no Brasil durante anos foi a proibição da prática de religiões com origem africana.. Como havia perseguição e risco de repressão policial, os cultos às entidades tinham que ser "disfarçados" de festas para santos católicos. Esta é uma das, embora não a única, explicação do sincretismo religioso existente até hoje.
Presépio na senzala |
Nestes poucos metros quadrados de um prédio antigo, de onde se tem uma bela visão do centro histórico, pode-se fazer uma imersão na história de um povo, tornando sua viagem ao estado mais educativa. Com certeza ficará clara a contribuição do povo negro para a formação do que hoje conhecemos como Brasil, e especificamente Maranhão.
Vista dos telhados do Centro histórico de São Luís |
Na semana da consciência negra, também é hora de reconhecermos o quão negro cada um de nós somos, e quanto o profundo racismo que permeou e ainda permeia nosso cotidiano só nos traz prejuízos.
Fotos: Ana Beatriz Serpa
Ana Beatriz Serpa é turismóloga e articulista em Turismo e Viagens à Agência de Notícias Alternativas
Mantém o blog Planejo Viajar - integrante da rede de blogues da ANOTA
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