terça-feira, 26 de novembro de 2013

'Julieta' moderna desafia a violência contra a mulher no Iêmen

por Maximiano Laureanoda Redação

Uma garota encontra um rapaz, seu pai desaprova. É uma história tão antiga quanto o tempo, mas, ao contrário de Romeu e Julieta, um casal preso no Iêmen provocou uma grande campanha no Facebook.

Era uma vez, há três anos, Huda, agora com 22 anos, entrou em uma loja de celular em sua aldeia natal na Arábia Saudita. Ela conheceu Arafat, hoje com 25 anos, um trabalhador migrante iemenita de uma família muito pobre. O amor nasceu.

Arafat se aproximou dos pais de Huda para pedir a mão dela, mas foi rejeitado, de acordo com o advogado do casal. "Minha família queria me casar com outro cara", Huda parece ter dito a jornalistas sauditas, em um clipe postado no YouTube. "Mas eu me recusei. Eu disse ninguém vai me tocar com exceção de Arafat. Foi quando me veio o pensamento de que eu deveria fugir."

Huda então saiu de casa e atravessou a fronteira para o Iêmen disfarçado de trabalhador iemenita. Ela foi presa sob a acusação de imigração ilegal. A família de Huda alegou que Arafat tinha usado "magia" em sua filha, de acordo com relatórios. Arafat voltou ao Iêmen e ele também foi preso, por ajudar Huda.

Até aqui é tudo muito, tão familiar. Então, qual é a diferença entre Huda e história de Arafat, e a de Romeu e Julieta ou a dos árabes Laila e Majnun?

Desta vez, houve uma grande reação no Facebook iemenita, com várias páginas e imagens do casal sendo amplamente compartilhada (um tem 9.000 likes). Alguns dos comentários foram nacionalistas - com iemenitas ventilando raiva contras  atitudes de seus vizinhos mais ricos. Mas outros invocaram o levante de 2011, em que iemenitas exigiam seus  direitos.

"A simpatia e a solidariedade  com Huda é porque ela se rebelou contra a sua cultura", diz Fahad, um funcionário público de 33 anos de idade, que está no Facebook, todas as noites. "Ela levantou-se contra uma sociedade patriarcal que lhe disse para se casar.  Ele está organizando um grupo para protestar do lado de fora da audiência de Huda e  Arafat no domingo. 

Consideradas como sendo posse e objeto do marido, as iemenitas são muitas vezes vendidas pelos seus pais antes dos quinze anos para casarem com homens muito mais velhos e começarem a ter filhos. Existe também o problema da detenção arbitrária a que as mulheres iemenitas estão sujeitas. As prisões femininas estão cheias de jovens que foram presas com acusações que vão desde fumar, comer em público sem a presença do marido, ou adultério por simplesmente olharem um homem de frente.

Quase qualquer pessoa do sexo masculino pode mandar prender uma mulher, e por isso muitas iemenitas não sabem por que razão estão na cadeia, nem a acusação de que são alvo, segundo a vencedora do prêmio Nobel da Paz e ativista iemenita Tawakul Karman.

No passado, qualquer menção nos noticiários sobre as mulheres do Iêmen geralmente tratavam de duas questões, nenhuma delas positiva. A primeira é de que a chance de morte durante o parto lá é muito maior do que para a maioria das mulheres no Oriente Médio. E a segunda é a de que elas se encontram entre as mulheres menos empoderadas do mundo.

Em 24 de novembro, a audiência no tribunal de  Huda foi adiada até 01 de dezembro para aguardar uma decisão do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados sobre o seu pedido para serem enquadrados no estatuto de refugiado no Iêmen. Os funcionários do ACNUR no Iêmen disseram que o caso de  Huda era possível ser aprovado, alegando que ela poderia enfrentar maus tratos, ou até mesmo a morte, nas mãos de sua família, se ela voltasse para casa.


A partir de reportagem da BBC on line
Página do Facebook de Huda e Arafat: https://www.facebook.com/1Huda.Arafat

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