No mês de novembro - em que se celebra a consciência negra e Zumbi dos Palmares - a ANotA publicará uma série de artigos e reportagens sobre a questão racial e o situação dos negros no Brasil
O Brasil é um país marcado pelas desigualdades, sejam elas decorrentes de questões regionais, étnico-raciais, etárias, de gênero ou territoriais. O racismo, no panorama do acesso à saúde, é uma das expressões mais fortes dessas desigualdades, pois, em praticamente todos os indicadores de saúde, a população negra tem desvantagens.
Na avaliação do médico Rui Leandro da Silva, integrante do Comitê Técnico de Saúde da População Negra do Ministério da Saúde, essas desigualdades se refletem nos dados epidemiológicos que evidenciam considerável diminuição da qualidade e da expectativa de vida da população negra. Segundo o médico, as altas taxas de morte materna e infantil e a violência, são vivenciadas de forma mais intensa por esse grupo populacional.
Em reunião da Comissão de Seguridade Social sobre o tema, realizada em meados de Outubro, a secretária de Políticas de Ações Afirmativas da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), Ângela Maria de Lima Nascimento, apresentou dados que reforçam o quadro de desigualdade no acesso de negros à saúde.
Segundo a secretária, 41,5% das mulheres negras com mais de 40 anos, nunca fizeram mamografia – contra 26,7% das mulheres brancas com a mesma idade. Em relação aos exames de colo de útero, 18,4% das mulheres negras nunca fizeram, contra 13% das mulheres brancas. E em relação aos exames de mama, os números são 32,7% contra 19,3%, respectivamente.
Vale ressaltar que 70% dos negros dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS), e que passados 07 anos da aprovação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, apenas metade dos Estados e seis capitais possuem estruturaram comitês voltados à aplicação dessas ações. Além disso, existem problemas no que se refere à área de informação, capacitação e formação em saúde.
Apesar do SUS ter sido criado para proporcionar igualdade de acesso à saúde a todos os brasileiros, quando se fala da população negra, é preciso levar em consideração as desigualdades históricas que essa parcela da população sofreu. Por isso, é preciso uma atenção específica que possa resolver os problemas específicos de um grupo em que a realidade é fruto de um processo histórico de racismo institucionalizado. Os quilombolas da Chapada Diamantina, por exemplo, sofrem com a anemia falciforme, mas eles não têm acesso a atendimento especializado.
Uma informação importante para as pessoas que sofrem com anemia falciforme, dada pela coordenadora do Sistema Nacional de Transplantes do Ministério da Saúde, Patrícia Gonçalves Freire, é que a partir do próximo ano, quem for portador da doença e tiver indicação médica de transplante de medula óssea, poderá realizar o procedimento de graça pelo SUS.
A doença falciforme caracteriza-se por uma alteração dos glóbulos vermelhos no sangue. Ela é uma doença hereditária e atinge, principalmente, a população negra. Além da anemia e do comprometimento da circulação, a doença causa bastante dor nos pacientes. Os portadores estão mais sujeitos a infecções e se não receberem tratamento adequado, podem morrer.
Jorge Henrique é enfermeiro da rede de saúde do Distrito Federal
e articulista da Agência de Notícias Alternativas
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