por Ademar Lourenço, de Brasília
As futilidades de vida dizem muito sobre o espírito de uma geração. As novelas, as modas, as gírias, as piadas. Tudo isso pode revelar mais sobre o que pensam as pessoas do que as suas opiniões em assuntos ditos “´sérios”.
Quanto aos assuntos “´sérios”, existe uma mudança no modo de pensar dos brasileiros nos últimos quinze anos. Um exemplo é que em 1998, Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, era reeleito no primeiro turno depois de privatizar a mineradora Vale do Rio Doce e a Telebras, empresa estatal de telefonia. Hoje isso seria impossível.
Também nas futilidades existe uma diferença entre a geração de hoje e a do fim dos anos 90. O playboy milionário que participou de um vídeo no youtube dizendo que carro de luxo, champanhe caro e roupas de grife “agregam” ao camarote foi achincalhado pela maioria das pessoas que viram o vídeo. Chamaram ele de exibido, fútil e ridículo. Há quinze anos atrás o “rei do camarote” seria corajoso, descolado e “um cara que sabe aproveitar a vida”.
Era a época em que Sandy aparecia na televisão pregando a virgindade. Hoje ela prefere propagandear os prazeres do sexo anal. Era a época em que dirigir um carro com CD-player garantia status, amigos e sucesso na balada. Foi a maior ofensiva dos valores conservadores e capitalistas da história.
As coisas mudaram. Em época de black blocks destruindo joalherias, ostentar riqueza não parece prudente. A atração do “ser pelo ter” diminuiu sua força. É bom lembrar: esse sistema de valores ainda é hegemônico e o funk ostentação está aí para nos lembrar disso. Mas pelo menos o contraponto é mais visível.
A juventude que sonhou com o último episódio da caverna do dragão era muito mais consumista, fútil e preconceituosa que a atual. Hoje existe ao menos uma disputa entre diferentes pontos de vista. Nos anos 90, uma visão mais progressista de mundo era considerada coisa de grupos muito pequenos, gente que parecia alienígena.
Não sou nem um pouco saudosista com o pessoal de quinze anos atrás. A juventude atual é apressada, mimada, individualista e dispersa. Mas é mil vezes melhor que aquela que passou a adolescência vendo as primeiras temporadas de “Malhação”.
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