domingo, 24 de novembro de 2013

Governo leiloa mais dois dos maiores aeroportos do Brasil: Galeão e Confins. O que muda para nós usuários?

por Ana Beatriz Serpa, de Brasília

Leilão de privatização do Aeroporto do Galeão
Na sexta-feira (22) foram concluídos na sede da Bolsa de Valores de São Paulo os leilões dos aeroportos de Galeão, no Rio de Janeiro, e de Confins, em Belo Horizonte. No ano passado já haviam sido leiloados os aeroportos de Brasília, Guarulhos e Campinas. Mas afinal, o que muda para nós usuários?

Nos aeroportos leiloados no ano passado, a primeira grande mudança visível é a quantidade de obras que estão sendo realizadas, o que certamente trará mais conforto e agilidade para os usuários. Da mesma forma que é indiscutível que as concessionárias que arrematam as estradas brasileiras fazem obras que resultam em melhor qualidade do serviço.

Também percebe-se um maior número de lojas e restaurantes à disposição dos passageiros, o que também é indiscutivelmente uma melhoria para o passageiro, mesmo nem sempre signifique preços mais acessíveis.

Outra diferença que eu notei nos últimos tempos é o maior aproveitamento de todo e qualquer espaço disponível no aeroporto para publicidade. Às vezes eu me impressiono com o quanto transformam tudo em propaganda. Hoje, enquanto você espera sua mala na esteira, passa uma malinha com alguma propaganda!

Então foi um bom negócio?

Mas porque então tanta resistência da população à ideia da privatização – embora esse governo estrategicamente tente diferenciar concessão e privatização -?

Nos anos 90 fomos bombardeados com a propaganda de que as privatizações iriam trazer a modernização para o país e que o Estado era ineficiente, corrupto e, portanto, inadequado para gerir os recursos do país. Contudo, em poucos anos percebemos que as empresas que foram privatizadas foram na verdade presenteadas e que a “modernização” delas não significou melhoria na qualidade de vida da população.

E é exatamente esta a nossa questão neste momento. Não é por acaso que os aeroportos leiloados sejam os maiores, mais movimentados e com maior potencial de gerar lucros para seus administradores. Não ouvi notícias de que serão leiloados os aeroportos regionais do país no sentido de modernizar o abastecimento de mercadorias para as populações que vivem nas regiões mais remotas.

O que questionamos, o que tememos é que essas concessões dos aeroportos acabem significando apenas mais lucros para os donos dos consórcios, e que este lucro em alguns momentos esteja contrário aos interesses dos passageiros.

Um exemplo recente foi a possibilidade de cobrar do passageiro uma taxa de conexão. Como todos os aeroportos leiloados são grandes hubs (pontos de conexão) do país, as concessionárias não estavam satisfeitas de verem seus terminais sendo utilizados por quem pagou a taxa de embarque apenas no aeroporto de origem.

Mas então como estava era melhor?

É claro que os aeroportos do Brasil precisam de todas as obras que estão sendo feitas, como novos aeroportos precisam ser construídos de maneira que o povo brasileiro possa se locomover com mais conforto e praticidade, bem como o escoamento de mercadorias para abastecimento chegue mais rápido e um custo menor.

A questão é que para a realização das obras, a concessão não é a única saída. Os recursos para elas serão concedidos pelo BNDES, um banco público. Ou seja, poderiam ser realizadas pelo próprio governo. E sem a pressão de obtenção de lucros a qualquer custo, a modernização dos terminais poderia trazer ainda mais conforto para os viajantes.

É uma situação parecida à da concessão de rodovias. Tentam nos fazer crer que a única forma de ter estradas duplicadas, ou bem conservadas, é privatizando/concedendo.

Ainda está em aberto até que ponto vai a concessão de aeroportos no país. Me parece que os principais terminais serão concedidos, e restará para a INFRAERO a gestão dos aeroportos menores e regionais. Assim, está garantido que nenhum consórcio terá o transtorno de gerenciar um terminal que não traga tanto retorno.

E quanto ao turista ainda está em aberto quais serão os impactos. A princípio tudo indica que gastaremos mais em serviços, talvez sofreremos aumentos de taxas para embarque e conexões, em compensação à aparente melhoria no conforto dos aeroportos.

Leia mais sobre a privatização dos aeroportos:

Ana Beatriz Serpa é articulista de Turismo e Viagem para a Agência de Notícias Alternativas
Mantém o blog Planejo Viajar (integrante da rede de blogues da ANOTA)

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