terça-feira, 15 de outubro de 2013

Selic sobe mais uma vez e o Brasil volta a ter os juros mais altos do mundo. Fim de ano comprometido

por Almir Cezar, de Brasília
especial para a ANOTA

Tombini, presidente do Banco Central (Foto: BCB)
Há uma semana a taxa básica de juros (Selic), chegou à 9,5% ao ano, a maior taxa básica de juros reais do mundo. O Banco Central realizou na terça e quarta-feira da semana passada a penúltima reunião do ano para discutir o processo de ajuste da política monetária, iniciado em abril. A Selic antes do fim de 2013 deve  ainda registrar mais uma alta consecutiva e fechar o ano em 10%, na suposta tentativa de que o índice de inflação oficial feche o ano próximo do teto da meta, em 6% ao ano. Embora a inflação esteja em baixa, a alta é fruto dos lobbies do mercado financeiro, apesar dos severos prejuízos aos empregos e consumidores, às vésperas do Natal e fim de ano.

Segundo o Comitê de Política Monetária (Copom), os registros inflacionários nos primeiros meses do ano foram determinantes para que o este elevasse a Selic, já naquele mês, para 7,5%, quando a taxa básica de juros (Selic) estava em 7,25% ao ano - o nível mais baixo desde que o colegiado de diretores do BC foi criado, em junho de 1996. De lá para cá, foram mais três reuniões, com aumentos de 0,5 ponto percentual cada uma, elevando a taxa para os então 9%. De acordo com expectativas dos analistas financeiros, manifestadas no boletim Focus, do BC, divulgado na véspera, era que Copom deveria ajustar a taxa em mais 0,5 pp.


Para esses analistas o ciclo de alta se justificaria porque o impacto da taxa de câmbio na inflação deve se intensificar nos preços de produtos importados, em novembro e dezembro. Segundo eles, “o próprio fato de a atividade econômica se mostrar relativamente mais aquecida do que o esperado, deve aumentar os repasses de custos para os preços”. 
Gráfico 1

De fato, o relatório Focus, indica um forte o lobby do mercado financeiro para manter alto os juros. Nessa estratégica, pressionando o Copom pela alta, projetam a manutenção, acima da meta, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, indicador oficial medido pelo IBGE), usado na meta de inflação, apesar de suas sucessivas quedas e desaceleração nos últimos meses (veja os gráficos 2 e 3) 

As reuniões do Copom ocorrem em intervalos de 45 dias, sempre em duas etapas, para fixar a taxa média dos financiamentos diários dos títulos federais, depositados no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic). Por extensão, a taxa básica de juros é conhecida também como taxa Selic. Esta taxa é usada como base para os bancos comerciais e de investimento para fixar sua própria taxa de juros para os clientes e para remunerar aplicadores. Quando a Selic caí, as instituições financeiras são impulsionadas a emprestarem dinheiro ao consumidor para conseguirem um lucro maior. Quando ocorre o contrário, a Selic aumenta, os bancos preferem emprestar ao governo, que paga bem e oferece mais garantias. Assim, haverá menos dinheiro disponível e o crédito oferecido às pessoas físicas ficará mais caro.
Gráfico 2: IPCA mensal

Na primeira parte da reunião, às terças-feiras, os chefes de departamento do BC apresentam análises da conjuntura doméstica sobre as variáveis macroeconômicas, com foco na avaliação prospectiva das tendências de inflação. Na segunda parte da reunião, às quartas-feiras, os diretores de Política Monetária e de Política Econômica apresentam alternativas de taxa de juros de curto prazo para deliberação dos demais diretores. Só o colegiado de diretores tem direito a voto. 

Por sua vez, a meta anual de inflação (um piso, um centro e um teto) é definida no ano anterior pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão deliberativo máximo do Sistema Financeiro Nacional - um colegiado composto apenas pelos ministros da Fazenda, do Planejamento e o presidente do BC. Tal composição é alvo de muitas contestações, que exigem maior participação da sociedade civil e menor suscetibilidade aos lobbies do mercado financeiro.
Gráfico 3: IPCA acumulado em 12 meses

Segundo os cálculos Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), o aumento de 0,5 ponto porcentual na taxa leva o governo a gastar R$ 10 bilhões a mais, com o pagamento de juros dos títulos da dívida pública. Isso custa o triplo da ajuda aos municípios em mobilidade urbana, anunciada em julho pela presidenta Dilma, em resposta a onda de protestos que varreu o mês de junho.

O aumento da taxa básica reduz ainda mais a procura da população brasileira por bens e serviços, que já se encontra enfraquecida pelo baixo crescimento da empregabilidade e da renda real do trabalhador, mas que vinha se recuperando. Elevar a taxa Selic contribui para a redução de investimentos no setor produtivo, obrigando o governo a pagar mais juros para especuladores. A decisão mantém os trabalhadores em alerta porque a alta dos juros retira dinheiro da economia e encarece o crédito em um período que eles vão às compras, ou seja, no Natal. 

A retomada do ciclo de alta da Selic desde abril coincide com quedas na produção, que atingiram 15 dos 27 setores pesquisados pelo IBGE, na passagem de junho para julho, abortando a recuperação econômica ensaiada no segundo trimestre deste ano.

Para especialistas não ligados aos bancos e mercado financeiro, para atacar verdadeiramente o tipo de inflação por que perpassa o Brasil, centrado nas commodities, desvalorização do câmbio (que pesa no preços dos bens importados e dos exportáveis) e nos preços administrados, é necessário fazer a reforma agrária e fortalecer a agricultura familiar, que ocupa a menor parte das terras, mas que produz a maior parte dos alimentos para consumo interno. E, reduzir os preços das tarifas públicas, principalmente o preço das passagens de ônibus, que motivou as grandes manifestações recentes no país.

Com informações: Banco Central, Agência Brasil e Fiesp

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