quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Repúdio à parcialidade da imprensa burguesa na greve da educação RJ! Em defesa das organizações dos trabalhadores!

 por Teones França
Historiador e professor da rede estadual de educação do RJ.

A greve dos profissionais de educação do Rio de Janeiro tem demonstrado, principalmente através das massivas ações de rua, que as jornadas de junho têm continuidade. Por isso, os veículos da grande imprensa estão voltando suas baterias contra o movimento num claro objetivo de enfraquecê-lo e impedi-lo de obter o apoio da sociedade, tendo em vista que até artistas globais fazem uso das redes sociais para manifestar solidariedade aos profissionais em luta.

O jornal O Globo é um exemplo da cobertura parcial que a imprensa burguesa faz desse movimento. Tal tabloide, que dias atrás conseguiu bastante repercussão ao realizar autocrítica de sua postura conivente junto à ditadura militar no Brasil, segue dando mostras de que não reviu suas práticas e permanece de braços dados com os donos do poder mantendo-se como caixa de ressonância dos projetos que visam a manutenção da ordem do capital.


Entretanto, no dia 3 de outubro último, O Globo não fez nem questão de tentar esconder suas garras afiadas contra as mobilizações dos trabalhadores da educação carioca ao buscar associar a luta (legítima) desses profissionais a radicalismos de partidos de esquerda, PSOL e PSTU, que não aceitaram a razoável proposta apresentada por Paes porque têm como "prioridade enfrentar a aliança partidária no poder no estado e na prefeitura".

Nem o governo foi tão enfático ao defender sua proposta que, de acordo com o editorial do jornal, teve o mérito de melhorar os salários e a progressão na carreira dos professores. No entanto, os editores esqueceram-se de fazer menção à ausência, na proposta de Paes, de qualquer melhoria para os funcionários das escolas, além de também se esquecerem de dar aos grevistas o direito da argumentação em contrário.

Mas, isso não é tudo. Após praticamente considerar os educadores como idiotas, ao afirmar que são "historicamente uma massa de manobra política", o jornal acusa o Sindicatos dos Profissionais da Educação do Rio de Janeiro (SEPE) de servir como "trampolim político para militantes", pois , apesar de "em seu estatuto se declarar independente de partidos políticos, sua diretoria central inclui várias pessoas que já disputaram cargos políticos e que militam em siglas como PSTU".

Mesmo que saibamos que o jornal burguês cumpre apenas o seu papel de defesa dos interesses de sua classe e, portanto, não somos ingênuos a ponto de esperarmos o apoio de tal imprensa à luta dos trabalhadores, é necessário repudiar essas críticas já que elas visam atacar diretamente organizações da classe trabalhadora.

Antes de tudo é importante reconhecer que os movimentos sociais devem ser apartidários, contudo não são, de maneira alguma, apolíticos. Sendo assim é justo que qualquer militante desses movimentos tenha o direito de se filiar ao partido político que lhe convier, da mesma maneira que queira ver seu partido crescer. O que deve ser inadmissível para qualquer sindicalista vinculado ao SEPE (assim como o é para os militantes sérios em todas as áreas dos movimentos sociais) é que o sindicato, enquanto instituição, disponibilize o seu aparato para a construção de determinado partido político. E isso, certamente, não é o que se observa quando analisamos de maneira imparcial a história de mais de três décadas dessa instituição sindical.

No mesmo sentido, é direito de todos que militam nos movimentos sociais e que enxergam a sociedade com as lentes da luta de classes se apresentar como alternativa num processo eleitoral para a sua própria classe social. Se não, vejamos: que lógica há num sindicalista que participa de greves, às vezes por meses a cada ano, lutando contra os ataques dos governos e dos patrões, em épocas de eleições parlamentares fazer campanha e votar nos candidatos ligados aos governos e aos patrões ou que defendam as políticas destes? Qual é o crime cometido pelos sindicalistas que nas eleições para deputado, prefeito etc. se apresentam como alternativa eleitoral para os seus pares, ou seja, os trabalhadores?

Ora, se concordarmos então que um trabalhador tenha o direito a se pôr como opção no jogo eleitoral (burguês, diga-se de passagem) temos que nos perguntar quais são os melhores nomes para cumprir essa tarefa. Não há dúvida de que os melhores candidatos são os mais conhecidos, que podem, por isso, ter mais público para ouvir suas propostas. E dentre estes estão os dirigentes sindicais. Como os candidatos do campo dos trabalhadores já não possuem dinheiro suficiente para competir com as campanhas milionárias patrocinadas pela burguesia, se ainda forem totalmente desconhecidos de seus possíveis eleitores tornam-se anticandidatos em potencial.

Podemos apontar alguns aspectos que estão por trás dessa visão burguesa maniqueísta. Em primeiro lugar, há a intenção mais imediata de enfraquecer a greve dos profissionais da educação, e que já dura, heroicamente, mais de dois meses. Junto a isso está o ataque desferido às organizações dos trabalhadores aproveitando o momento oportuno para desqualificá-las perante à sociedade. E, por fim, de forma indireta, revela-se a ideia preconceituosa de que o trabalhador serve apenas para executar tarefas e não possui virtudes para legislar ou governar, pois para se qualificar a exercer essas tarefas deve-se possuir, no mínimo, curso superior, apresentar-se bem engomadinho, de terno e gravata etc., o que está distante da realidade da maioria dos trabalhadores em nosso país.

Nessa mesma edição de O Globo já citada percebemos que a ira desse órgão de imprensa não se estende a todo sindicalismo, mas apenas àquele que apresente uma feição mais combativa. Assim, lemos que o SEPE perdeu na Justiça o direito de ser a organização representativa dos profissionais da educação do estado do Rio de Janeiro para uma outra instituição sindical que, sem dúvida, deve ser merecedora de elogios por parte desse jornal já que, como bem sabemos, possui uma prática sindical que se limita a ações judiciais e é avessa às ações mais diretas. A greve da educação carioca, com assembleias que chegaram a contar quinze mil pessoas e atividades de rua com a presença de números bem parecidos, responde por si qual é a entidade sindical mais representativa para esses profissionais.

Ironicamente, no bojo dos ataques implementados pelo jornal a esses militantes no dia 3 de outubro é indicado, por ele próprio, a importância de um sindicato como o SEPE para a classe trabalhadora brasileira na atual conjuntura: "o SEPE se radicalizou e, hoje, não está mais sob a influência direta do PT".

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