por Max Laureano, da redação
Na tradição das políticas de segurança pública (e privada!) existe um conceito que historicamente norteou as ações de alguns agentes executores da Lei. Para estes, existem pessoas "matáveis". Isto é, são pessoas que podem ser mortas, executadas, com a certeza plena de impunidade, e a consciência tranquila, ao acharem que a sociedade não irá questionar as ações desses agentes de segurança nas favelas e/ou comunidades carentes.
Isto é possível de se constatar nos milhares de registros do auto de resistência (morte em confronto com a polícia), com o objetivo de mascarar homicídios cometidos por policiais civis e militares. Uma peça jurídica que inocenta, acoberta e por vezes até promove quem está por trás da arma. Por vezes, a certeza da impunidade é tanta, que sequer se faz uso desse artifício. Simplesmente se "desaparece" com a vítima. E os métodos de desaparecimento têm se modernizado com o tempo.
Segundo dados da Anistia Internacional, a PM de SP e do RJ matam mais do que países com pena de morte. A certeza da impunidade faz o policial cometer o crime. Para a família da vítima, apenas resta a esperança de encontrar o ente "desaparecido" vivo.
E infelizmente, assim foi o caso do pedreiro Amarildo, morador da favela da Rocinha. Para a lógica "subterrânea", ele era uma das pessoas “matáveis". Negros, pobres, moradores de comunidades carentes.
Talvez quem o levou pensou que estes são vítimas fáceis. Eram.
Talvez quem o levou pensou que ninguém sentiria sua falta, ou que não fossem reclamar "às autoridades competentes", por medo de retaliação ou de não serem ouvidos. Erraram.
O "desaparecimento" de Amarildo acabou gerando uma forte mobilização, que colocou em xeque a polícia do governador Sérgio Cabral, e sua certeza plena de impunidade, sua escolha por matar primeiro e averiguar depois.
E muita gente também quis saber "onde está Amarildo?"
Alguns sabiam a resposta, mas preferiam não
saber. A demora em responder, por parte da Secretaria de Segurança Pública do Estado do
Rio de Janeiro, somente comprovou a triste verdade: ele não estava mais
fisicamente entre nós. Tornou-se estatística, dolorosa e vergonhosa
estatística, das pessoas vitímas de uma polícia racista e pré conceituosa, por ter o conceito pré concebido que todo favelado é
seu inimigo, logo pessoa "matável".
Como resultado da forte mobilização nacional e internacional, a Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro afastou de suas funções os 15 policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha acusados de participar da tortura do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza no dia 14 de julho. O Ministério Público (MP) já havia denunciado estes agentes, por acreditar que Amarildo tenha morrido depois de 40 minutos de tortura nos fundos da sede da UPP.
Segundo a EBC (Empresa Brasil de Comunicação), além desses, mais dez policiais militares já haviam sido denunciados pelos crimes de tortura, ocultação de cadáver e formação de quadrilha e já estão presos. Quatro desses PMs também são acusados de fraudar o processo, ao tentar enganar a investigação e colocar a culpa da morte de Amarildo em criminosos comuns da Rocinha. Nesse grupo estão o ex-comandante da UPP, major Edson Santos, e o ex-subcomandante da unidade tenente Luiz Medeiros
Abaixo os nomes dos 25
PMs indiciados pela tortura e morte de Amarildo:
1-Major Edson Raimundo
dos Santos – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha / Fraude
processual (2x)
2-Tenente Luiz Felipe de
Medeiros – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha / Fraude
processual (2x)
3-Soldado Marlon Campos
Reis – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha / Fraude
processual
4-Soldado Douglas Roberto
Vital Machado, vulgo "Cara de macaco" – Tortura / Ocultação de
cadáver / Formação de quadrilha / Fraude processual
5-Sargento Jairo da
Conceição Ribas – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha
6-Soldado Anderson Cesar
Soares Maia – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha
7-Soldado Fábio Brasil da
Rocha da Graça – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha
8-Soldado Jorge Luiz
Gonçalves Coelho – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha
9-Soldado Victor Vinicius
Pereira da Silva – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha
10-Soldado Wellington
Tavares da Silva – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha
11-Sargento Reinaldo
Gonçalves dos Santos – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha
12-Sargento Lourival
Moreira da Silva – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha
13-Soldado Wagner Soares
do Nascimento – Tortura / Ocultação de cadáver / Formação de quadrilha
14-Soldado Rachel de
Souza Peixoto – Tortura / Ocultação de cadáver
15-Soldado Thaís
Rodrigues Gusmão – Tortura / Ocultação de cadáver
16-Soldado Felipe Maia
Queiroz Moura – Tortura / Ocultação de cadáver
17-Soldado Dejan Marcos
de Andrade Ricardo – Tortura / Ocultação de cadáver
18-Sargento Rodrigo
Molina Pereira – Tortura (por omissão)
19-Soldado Bruno dos
Santos Rosa – Tortura (por omissão)
20-Soldado João Magno de
Souza – Tortura (por omissão)
21-Soldado Jonatan de Oliveira Moreira –
Tortura (por omissão)
22-Soldado Márcio
Fernandes De Lemos Ribeiro – Tortura (por omissão)
23-Soldado Rafael Bayma
Mandarino – Tortura (por omissão)
24-Soldado Sidney
Fernando de Oliveira Macário – Tortura (por omissão)
25-Soldado Vanessa
Coimbra Cavalcanti – Tortura (por omissão)
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