ECONOMIA
por Almir Cezar, de
Brasília
A primeira reivindicação surgida nas ruas durante as manifestações dos
últimos dias foi à redução do preço das tarifas do transporte coletivo e a
melhoria da qualidade dos serviços prestados. Diante da forte pressão, o Congresso
Nacional começou a acelerar a tramitação de projetos sobre o tema ou apresentar
novas propostas para atender aos anseios da população. A maioria consiste em
desonerações fiscais, não mexendo no lucro dos empresários do transporte. Porém, o ministro Mantega, pressionado pelo mercado, anuncia que mais desonerações implicarão em aumento em outros impostos.
Projetos desengavetados
A Comissão de Assuntos Econômicos do Senado concluiu ontem (02), a
votação do projeto PLC 310/2009, que pode diminuir em até 15% o valor das
tarifas de ônibus com isenções por meio do Regime Especial de Incentivos para o
Transporte Coletivo Urbano e Metropolitano de Passageiros (Reitup). A matéria
concede, por cinco anos, benefícios fiscais relativos a tributos federais como
o IPI, Imposto de Importação, PIS/Pasep, Cofins e Cide-Combustíveis na compra de
veículos e peças.
Aprovada em caráter terminativo, o projeto deve seguir direto para a
Câmara dos Deputados, se não houver apresentação de recurso para que a matéria
seja apreciada no plenário do Senado. O texto, parado na Comissão de Assuntos
Econômicos desde outubro de 2012, foi colocado em pauta na semana
passada, e aprovado na última terça-feira.
O Reitup expande isenção para a aquisição de insumos usados por essas
empresas, como óleo diesel, veículos, carrocerias e pneus. O Projeto de
Lei reduz a zero as alíquotas das contribuições para o PIS/Pasep, além da
Cofins incidentes. Os deputados priorizaram, ainda, PL que isenta da cobrança
da Cide o combustível utilizado pelas empresas de transporte público coletivo
urbano.
A intenção é baixar os custos das empresas e, assim, baratear as
tarifas. Não mexem nas margens dos empresários do transporte. De acordo com o
relator do projeto, senador Lindbergh Farias (PT-RJ), se o Reitup for aprovado
no plenário, só em tributos federais a renúncia fiscal seria de R$ 4,2 bilhões
em 2014 e R$ 4,7 bilhões em 2015.
Outra matéria desengavetada recentemente pelos senadores foi a Proposta
de Emenda à Constituição (PEC) 90, de 2011, que garante o transporte às pessoas
nos direitos sociais estabelecidos pela Constituição Federal. A matéria foi
votada na última terça-feira (25), na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, mas ainda terá o mérito analisado por uma comissão
especial a ser criada.
Carona
Em resposta a onda de manifestações, o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), um dos líderes mais execrados por elas, apresentou proposta que assegura a gratuidade no transporte público coletivo local a todos
os estudantes do Ensino Fundamental, Médio e Superior em instituição pública ou
privada. A fonte de recursos para custear o passe livre estudantil, seriam os royalties de petróleo do pré-sal e do pós-sal.
Na quarta-feira passada a Câmara dos Deputados, diante de uma galeria
cheia de manifestantes da União Nacional dos Estudantes, criticada pela ligação
com o governo e até então sumida da onda de manifestações, aprovou a destinação de 100% dos royalties do pré-sal para os
setores de educação e saúde.
Mas mesmo que o projeto passe pelo Senado, tais
recursos só são esperados para o longo prazo - enquanto as demandas por melhorias
parecem ser urgentes.
Cobertor curto e a escolha do governo
A pressão para um enxugamento dos gastos do governo e temores de uma
aceleração dos preços de fato limitam as concessões que o governo pode fazer no
curto prazo. A situação cria um intrincado dilema econômico.
No anúncio do pacto de cinco pontos Dilma Rousseff prometeu destinar R$ 50 bilhões para
obras na área de mobilidade urbana, além de fazer melhorias em saúde e
educação. No início do mês, antes do começo da onda de manifestações, com foco na
inflação, o governo havia editado a MP 617, que zera o pagamento do PIS/Pasep e
Cofins sobre a receita de empresas de transporte coletivo urbano.
O governo está preocupado. O ministro da Fazenda Guido Mantega disse aO Globo “se porventura alguma outra desoneração chegar a ser feita, (como) a do diesel, qualquer renúncia será acompanhada de um corte de despesa ou de outra tributação para compensar”.
O mercado cobra do governo o cumprimento de metas fiscais e mais rigidez no controle da inflação. Embora prometa que não haverá cortes de investimento públicos e respeito a meta fiscal e de inflação, os protestos exigem mais gastos, os quais os mercados competem em recursos, tanto com juros como com investimentos e desonerações.
Com informações: Câmara dos Deputados, Agência Brasil e O Globo
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