por Ademar Lourenço, de Brasília
repórter da ANOTA
A bola da vez das redes sociais foi a declaração da jornalista Raquel Sheherazade defendendo a ação de um grupo de justiceiros que prenderam um adolescente de quinze anos em um poste. Muita gente defendeu a jornalista e seu discurso de “legítima defesa coletiva”. Na verdade o que ela fez foi defender bandidos mais perigosos que qualquer adolescente infrator: os milicianos.
A ação das milícias não tem nada a ver com legítima defesa. Uma coisa é a atitude do pequeno comerciante da periferia de Brasília que recentemente amarrou uma pessoa que tentou roubar sua loja e entregou o meliante para a polícia. A polícia estava em greve, o comerciante foi diretamente agredido e a reação não foi além da necessária para deter o roubo. Essa atitude, extrema e desesperada, é diferente da atitude dos grupos que “fazem a justiça” de vários bairros Brasil afora.
As milícias são um dos principais problemas do país. Quem viu o filme “tropa de elite 2” ou conhece lugar com atividade miliciana sabe do que eu estou falando. Eles extorquem a população local, muitas vezes dão cobertura para o tráfico e frequentemente agem como assassinos de aluguel. Agem de acordo com interesses obscuros. É difícil imaginar que eles não estejam a serviço de gente poderosa, que quer lucrar com a tal “segurança particular”.
Em certos bairros, o medo dos criminosos acaba sendo trocado pelo medo dos milicianos. Afinal, quem é que decide as “listas” que eles montam de pessoas marcadas para morrer, os moradores da cidade em assembleia? Obviamente não. E quem garante que só vai morrer bandido? Quem é desafeto político dos poderosos da região também está na mira? Ninguém garante.
Confundir a ação de milicianos com a de pessoas que agem por legítima defesa é de uma tremenda má fé. Ninguém quer adotar bandido, como a jornalista falou. Mas também ninguém quer ficar na mira de milícias. O crime é um problema de uma sociedade desigual, injusta e racista como o Brasil. Coisa que Raquel Sheherazade finge não entender.
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