quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Estudo da UFF identifica espaços de risco da região metropolitana do Rio

Por SCS-UFF

   Estudo do departamento de Geografia da UFF identificou os espaços de risco da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, em termos da poluição atmosférica produzida pelo Arco Metropolitano e pelas indústrias CSA e Comperj.

   Segundo os autores do estudo, o doutorando Heitor Soares de Faria e o professor orientador Jorge Luiz Fernandes de Oliveira, quando se busca um desenvolvimento sustentável, é preciso conhecer os riscos que os novos empreendimentos podem gerar. A RMRJ, dizem eles, concentra uma população de mais de 11 milhões de pessoas (74% da população do estado), numa área de 6.500 km2 (15% da área total do estado) e é a região metropolitana com a maior concentração econômica e demográfica do país. Nessa região, está localizada a maioria das indústrias do estado, além de comércio e serviços altamente especializados.

   Ela inclui ainda algumas áreas que, apesar das ocupações produtivas em petroquímica, química e plástico, como é o caso de Duque de Caxias, Belford Roxo e São João de Meriti; algumas atividades na indústria de vestuário, como Nova Iguaçu e São João de Meriti ou em papel e gráfica, caso de Duque de Caxias e São João de Meriti, essas cidades ainda se caracterizam como cidades dormitórios, com problemas de saneamento, moradia, saúde e educação e são a residência de quase um terço (27%)da população da RMRJ.

   Nessa situação, está programada a construção do Arco Metropolitano, a rodovia que vai interligar os municípios da RMRJ e as rodovias federais que para aí se destinam, dando acesso ao Porto de Itaguaí, e passando por fora do município do Rio de Janeiro, evitando o fluxo de 922 mil caminhões por dentro da capital.

   Ao mesmo tempo, nas proximidades do Arco Metropolitano, estão sendo instaladas indústrias pesadas, como o Complexo Petroquímico do RJ (Comperj) e a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) que, sozinha, produzirá 9,7 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO2), aumentando em mais de 76% as emissões deste gás na cidade do RJ, que hoje é de pouco mais de 12,7 millhões de toneladas, considerando-se todas as fontes de emissão.

   Uma das mais importantes conclusões da pesquisa é que os empreendimentos trazidos para alavancar a retomada econômica do Rio estão localizados em áreas que têm grande potencial para concentrar poluentes, onde a população é extremamente vulnerável, com condições de vida e saúde muito ruins, com poucos hospitais e leitos e que, por isso, são espaços de risco alto e muito alto para a população.

   O trabalho pesquisou duas frentes: o comportamento do escoamento atmosférico e sua influência na trajetória dos poluentes produzidos pelos veículos no Arco Metropolitano e pelas indústrias CSA e Comperj eas características socioeconômicas da população, capazes de torná-las mais ou menos vulneráveis ao desenvolvimento de doenças induzidas pela poluição do ar. O que possibilitou a identificação dos espaços de risco.

Mapa de Risco
   O Mapa de Riscoobtido é resultado do cruzamento das informações das áreas com potencial para concentração de poluentes com as informações sobre a qualidade de vida da população dessas áreas, considerando-se as dimensões de serviços de saúde; saneamento básico; demografia; renda e educação.

   O estudo identificou como áreas de potencial muito alto para concentrar poluentes no município do Rio, os trechos ao longo da Avenida Brasil, principalmente nos bairros de Santa Cruz, Campo Grande, Bangu e em grande parte da zona norte, centro e zona sul. Também foram observados potenciais alto e muito alto no centro de Niterói e em grande parte dos municípios de São Gonçalo e Baixada Fluminense, como Belford Roxo, São João de Meriti, Nilópolis, Mesquita, Nova Iguaçu, Queimados, Japeri, Seropédica e Duque de Caxias.

   O estudo traz mapeamento dos riscos para cada uma das situações, pois os municípios e as áreas do Rio têm perfis diferentes em relação à saúde, saneamento, educação, renda ou mesmo demografia.

   O estudo avaliou ainda a situação de áreas receptoras de poluentes que, muitas vezes sequer têm fontes significativas de poluição, mas, de acordo com a direção dos ventos e da capacidade de retenção de poluentes em sua região, são muitas vezes mais atingidas que o próprio centro emissor.

   Os setores com as melhores condições de vida estão concentrados em Niterói e zonas sul, oeste e parte da zona norte do Rio, como grande Tijuca e Vila Isabel. Os espaços de alto risco são áreas extensas e se concentram nos municípios da periferia e na extrema zona oeste do Rio.

   Os espaços de risco muito alto estão concentrados próximos às áreas industriais e rodovias de grande fluxo.

Segundo os autores, o meio ambiente está cada vez mais complexo e é no espaço urbano onde ocorre o impacto máximo da atuação humana sobre o meio ambiente.Nessas áreas, intensamente modificadas, estão as maiores situações de risco.

Relevo do Rio dificulta dispersão de poluentes
   A altitude do relevo influencia na direção dos ventos e dificulta a dispersão dos poluentes em algumas áreas. Os maciços da Tijuca, Pedra Branca e Gericinó-Mendanha, com altitudes em torno de 1.000 metros, impõem resistência ao escoamento, reduzindo a velocidade dos ventos e impedindo a brisa marítima de alcançar os bairros localizados no interior da Região Metropolitana. E o resultado disso é a estagnação de poluentes.

   Aliado a essa topografia, estão as baías de Guanabara e Sepetiba, que canalizam as brisas marítimas e terrestres. As simulações para o campo de vento e cálculo das trajetórias emitidas dos 5 pontos do Arco Metropolitano e das indústrias CSA e Comperj, possibilitaram identificar os fatores como: áreas urbanas muito densas, indústria com alto potencial poluidor, grande número de vias com alto fluxo de veículos, relevo e direção dos ventos que, combinados, dificultam a dispersão dos poluentes da RMRJ.

   Como resultado dessas simulações, observou-se que, das quatro bacias aéreas da RMRJ, as que receberam os novos empreendimentos potencialmente poluidores (CSA na Bacia I e Comperj na bacia IV) apresentam os maiores percentuais de população vulnerável aos efeitos da poluição do ar (46% e 43%, respectivamente).

   Uma bacia aérea é uma área, cuja topografia, delimitada por uma altura mínima, dificulta a dispersão de poluentes gerados pelas atividades econômicas. Por essa razão, as bacias aéreas são unidades de gerenciamento da qualidade do ar.

   O trabalho analisou as quatro bacias aéreas da região, que têm a qualidade do ar mais ou menos comprometidas, em função das fontes emissoras, por ser a RMRJ a segunda maior concentração de indústrias, de veículos e de outras fontes de poluentes.

   As trajetórias emitidas de três pontos diferentes do Arco Metropolitano e Comperj (bacias III e IV), quando se deslocam para oeste e depois para o sul, passam sobre o Rio de Janeiro muito próximo da superfície, trazendo poluentes emitidos em diferentes municípios da região metropolitana, para o município do Rio. Essas trajetórias, em geral, se deslocam em baixa altitude por áreas próximas da indústria, a menos de 100m do solo, e seguem em direção da Avenida Brasil, onde estão as áreas mais atingidas. No entanto, a concentração de poluentes varia de acordo com a estação do ano, do sistema atmosférico atuante e do horário de emissão.

   Para o estudo, realizado em 2010, as trajetórias de parcelas de ar foram simuladas em diferentes horários (9h e 18h) e a alturas de 0m para o escapamento de veículos e 70m para a chaminé das indústrias, nos meses de janeiro e julho (verão e inverno). Os dois horários foram escolhidos por representarem momentos distintos de radiação solar e com grande fluxo de veículos. A altura de 0m foi utilizada na simulação das trajetórias de ar que saem das rodovias, enquanto que a altura de 70m foi utilizada para simular as trajetórias de ar que saem da CSA e Comperj.

O primeiro caso grave na História
   O primeiro caso grave observado e estudado, de mudança na composição da atmosfera das cidades, ocorreu em Londres, em 1952, quando uma inversão térmica impediu a dispersão de poluentes, concentrados em baixa altitude, que permaneceram estacionados sobre a cidade por três dias, vitimando 4.000 pessoas.

   A partir desse episódio, a comunidade científica passou a estudar a atmosfera com o objetivo de entender quais condições favoreciam a concentração de poluentes. Desde então, várias medidas têm sido tomadas para reduzir essas emissões.

   No Brasil, a região do ABC paulista, que recebeu muitas indústrias de grande porte depois da segunda guerra, num crescimento desordenado, registrou nas décadas de 1960 e 1970, episódios agudos de poluição do ar que levaram pânico à população, lotando os serviços médicos.

   Cubatão, na Baixada Santista, que é rodeada pela Serra do Mar, o que dificulta a dispersão de poluentes, e que ainda tem um grande parque industrial, ficou conhecida na década de 1980 como o Vale da Morte, sendo considerada pela ONU, na década de 1980, a cidade mais poluída do mundo. No entanto, programas de controle aplicados nos últimos 25 anos reduziram em 90% a poluição da cidade.

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