domingo, 24 de julho de 2011

Seleção brasileira, CBF, imprensa e opinião pública: os (des)caminhos do futebol brasileiro

Por Leonardo Possidônio


Estádio de Sarrià (Barcelona), 5 de julho de 1982 uma data marcante e determinante para os rumos do futebol  brasileiro. Mais de 40 mil torcedores assistem a um grande jogo entre Itália x Brasil. A seleção “canarinha” repleta de craques (Zico, Falcão, Sócrates, Júnior, Leandro, Toninho Cerezzo, Serginho Chulapa, Éder, Roberto Dinamite) comandada por Telê Santana era tida como grande favorita ao título, pelo elenco que tinha, pela beleza de seu futebol e pelo momento do futebol brasileiro - que gozava do título de "melhor futebol do mundo". Contudo, carregava consigo uma enorme pressão pelo triunfo na copa da Espanha.

O selecionado brasileiro fazia boa copa do mundo até aquele momento, contudo num jogo em que falhas pontuais aconteceram o Brasil cai diante da Itália de Paolo Rossi para desgraça dos brasileiros que estavam há 12 anos ou três edições de copas sem ganhar um mundial do esporte mais popular do país. O jejum, pois assim era visto, de título mundial pelo qual passava a seleção brasileira foi também vivido pelos italianos (de 1938 a 1982) e pelos alemães (de 1954 a 1974), e ainda é vivido pelos ingleses e uruguaios.

Estamos num momento da história, década de 80, marcada pela expansão do investimento financeiro no futebol. Clubes passam a pagar alto por jogadores – seja na aquisição do "passe" ou em salários, empresas passam a investir no futebol (patrocínio de clubes, campeonatos, etc), jogadores passam a usar de sua fama para conseguir renda extra, o "bicho" (gratificação por vitória e conquista de títulos) é definitivamente adotado no futebol, etc.

A soma desses fatores foi determinante para que dali por diante o objetivo principal da seleção brasileira em copa do mundo fosse o resultado, a conquista do mundial. Os meios para tal fim foram secundarizados. O mesmo serve para as outras grandes seleções e para os grandes clubes de futebol, contudo no caso do selecionado brasileiro esta postura é mais acirrada, pois traz consigo o maior número de conquistas de copa do mundo, e os o títulos de fábrica de craques e de melhor futebol do mundo - e assim a pressão por novas conquistas de mundial.

Os posteriores insucessos brasileiros em copas do mundo revelam transparentemente a ocorrência desta mudança. E se inaugura um período em que a CBF, imprensa e opinião pública passam a não só exercer pressão sobre a seleção, mas a querer diretamente mudar os contornos da seleção. Tendo em 1994 mais um signo deste momento: a conquista do mundial, o desjejum, com um time de futebol "feio", burocratizado, contudo, eficiente sob a batuta de Romário - convocado por pressão da imprensa, opinião pública e CBF.


No decorrer da década de 90 e seguintes essa idéia de intervenção "externa" nos rumos da seleção se acirra. A CBF passa a centralizar muitas decisões (escolha de treinador, adversário e local de amistosos, convocação de jogadores, etc) independente da opinião pública. A imprensa brasileira passa a estabelecer como parâmetro de formulação de suas publicações a opinião pessoal/profissional de seus quadros (jornalistas, comentaristas, etc) - travando um distanciamento entre opinião pública, que passa a ter suas idéias menos considerada, e meios de comunicação - principalmente sobre escolha de treinador e convocação ou não de jogadores. A opinião pública neste momento tem grande coro coletivo - devido ao desenvolvimento de tecnologias dos meios de comunicação- contudo sua opinião passa a ser tratada por CBF e pela maioria da imprensa hegemônica de forma utilitarista: quando os resultados e ou idéias estão conforme o projetado (metas) ou postulado esta é usada como referência para a manutenção de um treinador, jogador, etc; quando não vão de encontro a seus projetos (metas) e ao que fora postulado a opinião pública é deixada de lado.


Este ponto é extremamente importante: a possibilidade de participação do torcedor nos rumos da seleção e do futebol. As decisões sobre o destino do futebol brasileiro sempre esteve a margem da opinião do torcedor. No auge da expansão da popularidade do futebol este foi alvo de manipulação política do governo ditatorial brasileiro para forjar uma suposta popularização - como se este estivesse cada vez mais a gosto do torcedor, seja no formato dos campeonatos, a composição da seleção brasileira, etc, como no caso da convocação da seleção para a copa de 1966/Inglaterra (muitos craques - mesmo sem condições física, técnicas, etc - foram "convocados" para elevar o espírito de nacionalismo no país) e a "ampliação" do número de clubes de várias cidades e estados sem qualquer critério técnico nos campeonatos nacionais/brasileiro para através do esporte mais popular do país elevar a popularidade do governo e de seus partido, cujo o lema desta expansão era "Onde a ARENA vai mal mais um time no Nacional. Onde a ARENA vai bem, mais um time também". Contudo, esta participação direta nos rumos do futebol nunca foi uma realidade.

Ser torcedor de futebol é um estado de emoção e razão que torna este esporte tão popular e contagiante, daí a importância da expressão desses sentimentos estarem sincronizados com os rumos do futebol, seja quando a torcida pede pela inclusão ou exclusão de um jogador (pela boa ou má fase deste, pela sua determinação e qualidades ou a ausência destas, etc) na seleção; a contratação, permanência ou demissão de um técnico da seleção; a realização de jogos da seleção nos mais diversos estados do Brasil; a fórmula e a composição dos campeonatos de futebol; etc. Assim como a participação nos rumos do futebol em um sentido mais profundo, cujas bandeiras de luta são de conhecimento geral: a ampliação capacidade dos estádios; a reabertura de setores populares dos estádios; a redução dos preços dos ingressos; o controle das tabelas e horários dos campeonatos; maior circulação de transportes públicos para os estádios; enfim, transparência no futebol brasileiro - que incluem o funcionamento dos clubes e estádios.

Evidentemente, em certos casos a razão dá lugar à paixão principalmente quando o assunto é seleção brasileira. Nem sempre a maioria tem a razão, dai vale levar em consideração o bom trabalho, as questões internas que são partes do trabalho e a seriedade e responsabilidade dos profissionais (jogadores e comissão técnica). Contudo, não se pode cair em armadilhas provocadas por dirigentes e imprensa - diante do interesses destes grupos. Neste sentido, vale resgatar dois exemplos recentes que são signos perfeitos desse contexto: a passagem de Dunga como técnico da seleção e o recente trabalho de Mano Menezes. Dunga, tinha em mãos (durante o período que dirigiu a seleção) um time montado com base em critérios bem transparentes - que fora composto pelo melhor que havia no futebol brasileiro (com raras exceções) onde todos estes tiveram sua chance, um time com esquema tático definido (posicionamento em campo, jogadas treinadas - bola rolando e bola parada, aplicação tática, etc) e um relacionamento com a imprensa e CBF que a cada dia mais se desgastava. Dunga acumulava feitos: Campeão da Copa América 2007; Campeão da Copa das Confederações 2009; 1º lugar nas eliminatórias da América do Sul pra Copa do Mundo de 2010; vitórias em amistosos contra Argentina, Itália, Portugal e Inglaterra; enfim, um retrospecto construído em 69 jogos com 50 vitórias, 12 empates e 7 derrotas (tendo tido o quarto melhor desempenho entre os treinadores da seleção, perdendo apenas para Zagallo, Vicente Feola e Telê Santana). Mas, também acumulava um grande desgaste com a imprensa - discussões e ou "bate-boca" com a imprensa sobre suas escolhas (jogadores, esquema de jogo, funcionamento da concentração, acesso da imprensa a jogadores, etc) - e com a CBF (o veto a alguns jogadores - por critérios técnicos - e a relação com um setor em especial da imprensa). Este desgaste com imprensa e CBF foram os determinantes para sua demissão da seleção brasileira - sem qualquer consulta ao torcedor. CBF e imprensa se colocaram em posição de voz da opinião do torcedor e assim agiram, contudo em prol de seus interesses.

Já no caso de Mano Menezes, há diferenças quase que antagônicas: um time com péssimo posicionamento em campo (isto inclui também: rebote ofensivo e defensivo, disputa da 1º e 2º bola no meio de campo, movimentação em campo, pressão na saída de bola adversária, etc); fragilidade no esquema tático (não há jogadas treinadas de bola rolando, bola parada, etc - isto inclui contra-ataques, linha de fundo, etc); ausência ou falta de transparência na convocação e ou escalação de jogadores (as ausências de Hernandes, Marcelo, Dedé, Hulk, Juan, etc nas convocações, as constantes mudanças no time titular e o pouco aproveitamento de outros jogadores no time principal - casos de Lucas e Maicon); fraco desempenho nos amistosos da seleção (derrota para Argentina e França) e nos jogos da Copa América 2011 - culminando na eliminação precoce da seleção nas quartas de final, totalizando 12 jogos sendo 6 vitórias, 4 empates e 2 derrotas. Enfim, um desempenho que está sob questionamento do torcedor, porém não da CBF e da imprensa. Mano, segue a cartilha da direção da entidade de convocação de jogadores, funcionamento da concentração e acesso da imprensa aos jogadores - aliado a não manifestação de sua opinião sobre os problemas do futebol brasileiro (principalmente: tabela do campeonato brasileiro e reformas e construção dos estádios da copa do mundo de 2014, etc), já no tocante a relação com a imprensa esta está permeada de bom trato e cordialidades - isto inclui a preocupação do treinador em convocar ou não e escalar ou não certo jogadores a qual a imprensa tem maior apego. Sendo assim, mesmo diante de um desempenho questionável, Mano Menezes está isento de qualquer crítica profunda e questionamentos da imprensa e CBF no momento.

Portanto, estamos diante de uma conjuntura angustiante do conjunto do futebol brasileiro que vai de confronto direto ao referencial que este futebol (brasileiro) acumulou historicamente e como é tido como referência para outros povos – pela sua popularidade, alegria, ousadia, etc que foram atacadas pelo monopólio das decisões por parte da CBF e imprensa hegemônica.  Superar esta conjuntura é relançar a esperança sob um futebol que contagia e é parte do folclore popular.

4 comentários:

  1. Concordo plenamente.

    Belo artigo, continue o bom trabalho.

    De um avido leitor.
    -Mangos.

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  2. Primeiramente vou questionar um péssimo mau gosto da camisa com uma lista azul e o escudo no ombro. Acreedito que a faixa era para colocar OREEM E PROGRESSO. Emnfim a camisa está deacordo com o futebol que a equipe de Mano Menezes está jogando - Não tem tem uma equipe base - não tem um padrão de jogo - jogam como peladeiros em campo de terra. Não adianta dar chutões para frente, como estão fazendo os zagueiros - um meio de campo sem criatividade... Deste jeito o povo brasileiro não acredita que ese time não pssará da primeira fase, frustrando todos nós. Só faltam dois anos e meio e o técnico não definiu quem terá condição para defender o Brasil.

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  3. Desculpem as falhas de digitação-- deixo aqui a mesma crítica escrita corretamente.
    Primeiramente vou questionar o péssimo gosto da camisa com uma lista azul no peito e o escudo quase que no ombro. Não sei qual a finalidade dessa faixa. Será que era para colocar - ORDEM E PROGRESSO!.... . Enfim, a camisa está de acordo com o medíocre futebol que o time de Mano Menezes vem apresentando..Quanto ao futebol, é uma vergonha. Ainda não tem um equipe base - não tem um padrão de jogo definido. O que se vê é os zagueiros dando chutões para frente na tentativa de alguns atacantes anões pegarem a bola, o que é difícil, Os jogadores do meio de campo não sabem o que fazer quando estão com a bola nos pés.... não tem criatividade. Uma coisa que me deixa irritado é quando atrasam a bola para o goleiro e este dar chute pra qualquer lado... até parece que o goleiro tem o chute mais forte do que os outros..... Desse jeito o povo brasileiro não acredita que esse time não passará da primeira fase, frustrando todos nós. Já era tempo de ter uma base. já chega de fazer teste..... sempre vou dar minha opinião.

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