sábado, 26 de abril de 2014

Querem calar a Verdade?‏

por Max Laureano, especial para a ANotA

Charge de Clara Paiva
O ex-Coronel do SNI, Paulo Malhães, que admitiu participar de tortura para a Comissão da Verdade, foi encontrado morto, por asfixia, no Rio de Janeiro. Ele  teve sua casa invadida, e sua mulher e caseiro foram feitos reféns.

Para a jornalista Ana Helena Ribeiro Tavares, a morte de Malhães não foi uma simples "queima de arquivo", como a do delegado paulista Sérgio Paranhos Fleury.

Segundo relatos no livro Memórias de uma Guerra Suja, o ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social do Espírito Santo (Dops), Cláudio Antônio Guerra, assume que, na condição de um ex-agente da repressão aos opositores da ditadura militar, o também delegado Sérgio Paranhos Fleury teria sido assassinado por ordem dos próprios militares.

Segundo Claudio Guerra, "o delegado Fleury tinha se tornado um homem rico desviando dinheiro dos empresários que pagavam para sustentar as ações clandestinas do regime militar e não obedecia mais a ninguém, agindo por conta própria". Ainda, segundo o mesmo, "Fleury teria sido dopado e levado uma pedrada na cabeça antes de cair no mar, fato que justificaria a estranha ausência da necropsia do cadáver".

Fleury foi um arquivo queimado sem ser aberto. Paulo Malhães, no entanto, já tinha jogado muita coisa no ventilador. Foi morto por vingança, pela caixa preta que abriu e como tentativa de silenciar outros. Nisso, a morte por asfixia é bem simbólica: talvez Malhães tivesse mais a falar, nomes a dar, ainda que tenha falado muito antes de morrer.

Seu assassinato é, ao que parece, vingança dos que ainda se escondem e tentativa de intimidar outros agentes da repressão. Pelo visto, algumas pessoas têm tanto medo que estão matando seus pares, comensais da morte nos porões da ditadura de hoje.


No Brasil, as investigações dos crimes da ditadura iniciaram-se praticamente após 50 anos do Golpe instituído em 64, com muitas dificuldades, pouco apoio da sociedade, do governo Dilma, que também sofrera nas mãos dos algozes, mas, que, em favor do projeto político de permanência no poder de seu partido, o PT, esforça-se pouco para justiçar o passado de sua geração.

Há não muito tempo atrás, também de "forma nada suspeita", assassinaram o ex coronel do SNI, Júlio Miguel Molina Dias, de 78 anos. Dias foi morto a tiros em Porto Alegre quando chegava em sua residência, no bairro Chácara das Pedras, em 1º de setembro de 2012.

Essas mortes lembram em muito a do Ênio Pimentel da Silveira, que nos porões da tortura do Destacamento de Operações de Informações / Centro de Operações de Defesa Interna (DOI/CODI) era conhecido como "Dr. Ney". Ele conseguiu a façanha de "se suicidar" disparando quatro tiros de 38 no próprio peito.

Wadih Damous, presidente da Comissão da Verdade do Rio, afirmou em nota que "esse crime mostra, mais uma vez, a necessidade imperiosa de que sejam abertos os arquivos militares da repressão política e esclarecidos os crimes cometidos nos porões da ditadura. Só assim poderemos virar essa página e consolidar a democracia em nosso país."

Mas não custa lembrar que se uma pessoa é morta, ainda há tantas outras. Felizmente, nada fica oculto para sempre. A verdade sempre vem a tona,  nem que isso leve mais 50 anos.

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