quinta-feira, 24 de abril de 2014

Mais um jovem morto em comunidade do Rio de Janeiro

Assassinato depois ação policial do dançarino DG, Douglas Rafael da Silva, morador do Pavão-Pavãozinho, comunidade com UPP, fez revolta popular erguer barricadas pela Zona Sul do Rio. Mais uma morte de um jovem negro e pobre nas mãos da polícia.

por Aderson Bussinger, da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ

Revolta após assassinato em ação policial na comunidade fez
 erguer barricadas pela Zona Sul do Rio. (Foto: Ag. Brasil)
Pavão-Pavãozinho I - No início da noite, de terça-feira (22/4), tivemos notícia da morte de um jovem, de nome Douglas, que seria dançarino do programa de TV Esquenta, da Rede Globo.

Por este motivo, os moradores do morro desceram para Copacabana, fecharam algumas vias e realizaram um protesto, que, por sua vez, foi reprimido violentamente por destacamento armado do Choque da PM.



Mais gasolina jogada no fogo... acrescento eu.

Os dados são extra-oficiais ainda, mas que houve, sim, uma morte, atribuída a ação de policiais da UPP local, isto é um fato real já confirmado e cabe, portanto, apurar a responsabilidade sobre sua autoria.



Sendo que o Brasil não pode aceitar a versão de que todas estas recentes mortes de jovens (como ocorreu com dois outros jovens mortos em Niterói, durante operação do blindado caveirão da PM, no bairro Caramujo) seriam por resistência destes, ou seja: a culpa seria supostamente da própria vítima! E estas, como na maioria das vezes: pobres e negras! 


E enquanto isto, se ilude a classe média, por exemplo, com a denominada "sensação de segurança" ( pois a elite "burguesa mesmo" possui outras defesas e refúgios fora do país) sendo que, na verdade, o preço social de toda festejada (pela imprensa e governos) "política de segurança pública das UPPs" tem sido a morte de jovens como mais este que, hoje, acaba de fechar os olhos para sempre no Pavão-Pavãozinho.



Pavão-Pavãozinho II - Estivemos, em nome da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, no IML aguardando a chegada de mais dois corpos de mortos no morro do Pavão-Pavãozinho.

Um morto, o bailarino Douglas Rafael da Silva Pereira já foi objeto de perícia e a causa da morte foi uma perfuração por, segundo os técnicos, objeto perfurante que dilacerou o pulmão.

Ouvi a mãe do dançarino que relata saber que a PM tentou esconder o corpo, bem como possuímos fotos de luvas encontradas perto do corpo.



Pavão-Pavãozinho III - Conversei com Larissa de Lima, mãe da única filha de Douglas, que foi uma das primeiras pessoas a avistar o corpo e testemunhou existirem luvas cirúrgicas descartadas no local onde estava jogado e ensanguentado.



Além deste fato, os documentos não estavam junto ao corpo e somente apareceram na delegacia de polícia depois, quando entregues a mãe, sendo que estavam molhados, sem que houvesse chovido. Muito estranho tudo isto. 


Registre-se que o corpo somente foi encontrado por insistência de advogados de direitos humanos e da militante Deise, que se uniu a família em busca de Douglas.

Pavão-Pavãozinho IV - A reportagem de O Globo de terça-feira (22/04), em sua página 11, fala da perícia "preliminar" realizada pela polícia no corpo de Douglas Rafael, que aponta que as "escoriações são compatíveis com queda". Isto e uma farsa!


Eu tenho a cópia do laudo do IML, que nós da CDHAJ tivemos acesso às 2: 30 desta madrugada, cuja conclusão atesta - hemorragia interna decorrente de laceração pulmonar decorrente de ferimento transfixante do tórax- , ou seja, a vitima foi ferida por objeto perfurante, segundo me explicou o médico colaborador de nossa comissão.

Tudo indica que já pretendem desvirtuar os fatos, mas a mãe viu o corpo no IML, ontem, e testemunhou que alem da perfuração, o corpo estava todo coberto de hematomas que são típicos de espancamento (vejam o que diz a mãe na televisão).

Além disso, há novos depoimentos de pessoas que viram o espancamento pela PM.

Pavão-Pavãozinho: Mãe responsabiliza os PM’s da UPP pela morte de DG - A mãe de Douglas prestou depoimento, nesta quarta-feira (23/4), perante o delegado responsável pela apuração do caso. Confirmou que seu filho já havia sido detido apenas como usuário de pequena quantidade de maconha e que teria reclamado junto a Polícia Militar sobre desaparecimento de uma moto, tendo, por este motivo, discussão com policiais da UPP, além de reclamar por perseguição por parte destes policiais.

Cápsulas de uso privativo da PM foram encontradas no local e se encontram, segundo o delegado, acauteladas na Delegacia de Polícia. A mãe responsabiliza os PM’s da UPP local. 

A morte do outro rapaz foi confirmada e as circunstâncias desta a Policia civil afirma estar apurando. Ainda não confirmamos, de fato, com certeza, a morte do garoto que seria a terceira vítima e estaria internada no Hospital Souza Guiar. Estas mortes, a meu ver, devem ser vistas no contexto das últimas ações da PM no Rio e Niterói, onde também morreram dois jovens no Caramujo, bairro periférico da cidade. 

Operações com táticas de guerra que desprezam (e vitimam) as populações pobres que ficam entre o tráfico, as milícias e a PM, sendo que esta última, enquanto força pública iguala-se a milícia e ao tráfico em se tratando abusos, covardia e violência contra esta mesma população. Motivo pelo qual não se vê respeitada, sendo mesmo odiada em muitos casos. 

Isto sem contar quando a polícia se associa ao tráfico e milícias, matando inclusive juízes, por ordem de comandantes de Batalhões, conforme evidenciado no julgamento dos mandantes e executores do assassinato da corajosa Juíza Patrícia Aciolli. 

E em nome de reprimir o tráfico, avançam militarmente contra os bairros pobres e favelas, matando quem estiver na frente. 

E quando aparecem mortos, procuram culpar o tráfico ... 


Como antes justificavam-se abusos policiais em nome da luta contra os comunistas, que, também diziam, comeriam até criancinhas ... E amanha poderão ser os ciganos e “sabe-se-lá-o-que ou quem” mais; pois o que vale e ter um álibi, um pretexto para não se falar de distribuição de renda, por exemplo, justiça, fim da exclusão social.

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