sexta-feira, 4 de abril de 2014

Meu avô não foi torturado, o que eu tenho a ver com a ditadura?

por Ademar Lourenço, repórter da Anota
direto da Sucursal Brasília

As discussões em torno dos 50 anos do golpe que instaurou a ditadura militar gira em torno daquelas pessoas que foram perseguidas. Mas a maioria dos brasileiros não conhece uma pessoa sequer que tenha sido presa, torturada ou exilada. Isto gera a sensação de que “eu não tenho nada a ver com isso”. Errado. 

A ditadura militar que durou de 1964 a 1985 prejudicou muito o brasileiro comum. Inclusive quem nasceu já depois que os militares saíram do poder sofre as consequências. Aqui temos quatro exemplos:

1 – Em 1960, quatro anos antes do golpe militar, o salário mínimo era de R$ 1.211,98 em valores atualizados (dados do Dieese). Em 1980 depois de alguns anos de ditadura, o mínimo passou para R$ 686,08. Com os militares no poder, os trabalhadores não podiam cobrar os seus direitos.

2 – Muita gente estuda para concurso público por causa da tal estabilidade no emprego, certo? Pois antes da ditadura, não eram só os servidores públicos que tinham este direito. Quem trabalhava na iniciativa privada ficava estável depois de 10 anos e só poderia ser demitido por justa causa. Foi a ditadura militar que acabou com a estabilidade para a iniciativa privada em 1966. Em uma democracia seria difícil cortar um direito desses. 

3 – A dívida externa do país em 1964 era de US$ 3 bilhões. Em 1984, depois de 20 anos de ditadura, passou para US$ 100 bilhões. Pagamos o que era devido ao tal FMI, mas o governo ainda gasta mais de 40% do orçamento com pagamento de dívida, pois o Brasil ainda tem outros credores (dados da auditoria cidadã da dívida). Isto quer dizer que quase a metade do dinheiro que poderia ser gasto com saúde, educação e outros serviços públicos é dado para os bancos. 

4 – Em 1960, 55% dos brasileiros viviam no campo. Em 1980, apenas 32% da população era rural (dados do IBGE). Milhões de pequenos agricultores perderam suas terras durante a ditadura militar por falta de apoio do governo ou pela violência dos grandes fazendeiros. Essas pessoas migraram para as cidades e o resultado foi o crescimento desordenado das metrópoles. Hoje temos mais de 11 milhões de pessoas morando em favelas. A poluição, a falta de segurança e as dificuldades com transporte estão tornando as cidades inviáveis.

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