por Juzerley Santos, da Redação
Família de Amarildo com cartaz da campanha |
Os estudantes do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (UFF) escolheram como patrono de sua turma de formatura o ajudante de pedreiro Amarildo Dias de Souza, desaparecido em 14 de julho deste ano após ser detido por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, onde era morador.
Um símbolo da lutra contra o governo Cabral e a violência policial, a mobilização em torno ao seu desaparecimento, como o lema "onde está Amarildo?", gerou uma enorme campanha de solidariedade nacional e internacional.
Leia abaixo o texto lido na cerimônia de formatura em homenagem a memória de Amarildo e o que levou os estudantes de da UFF, de repente de um mundo completamente diferente do pedreiro "desaparecido" à reverenciá-lo.
"O patrono desta turma foi auxiliar de pedreiro. Dedicava-se a executar, com mente, mãos e músculos, o que nós, arquitetos, planejávamos em nossas telas de computador. Seu nome era Amarildo. Pensar no pedreiro Amarildo é pensar no trabalho alienante (no escritório e no canteiro), na divisão social do trabalho, na mão-de-obra executora, afastada do conhecimento...
Em uma realidade que reserva a nós, arquitetos, um diploma em mãos, e a ele sacos de cimento nos ombros. Mas é também pensar na potência da autoconstrução, do conhecimento encarnado de quem todos os dias experimenta, improvisa, se desdobra e constrói um saber arquitetônico que a academia não ensina.
Ser o homem Amarildo é viver na favela da Rocinha, que, como o professor Gerônimo nos lembra, tem o mais alto índice de tuberculose da cidade. É habitar uma casa e percorrer ruas sem condições básicas de habitabilidade, de segurança, de salubridade. É saber que a Rocinha não precisa de teleférico. Talvez precise, mas antes precisa de coleta de lixo e saneamento de qualidade, dos quais se tem direito apenas na limpa cidade dos ricos.
Falar em Amarildo é falar do Morro da Catacumba, na Lagoa, da Praia do Pinto, no Leblon, do Morro do Pasmado, em Botafogo; algumas das favelas apagadas da paisagem carioca. É falar, mais recentemente, da Vila Autódromo e das portas marcadas do Morro da Providência. É falar da gestão municipal que mais removeu no último século e dos tantos mil cariocas que, às custas de um sonho olímpico, têm ameaçado o seu inalienável direito à moradia. É falar do déficit habitacional e, ao mesmo tempo, da política de governo que há décadas vem esvaziando os centros e lotando as favelas e periferias das grandes cidades. É falar dos sem-teto, das ocupações Machado de Assis, Zumbi dos Palmares, Quilombo das Guerreiras, removidas ou ameaçadas de remoção.
Saber da prisão, tortura e morte de Amarildo implica em ter o dever de saber da política pública de segurança higienista, da violência policial injustificada e injustificável. Do projeto de segurança e de cidade que extermina a juventude pobre, negra e favelada. Amarildo não foi o primeiro. É saber que estamos a mercê dos desmandos de um Estado que aumenta a cada dia o efetivo policial, constrói mais prisões, instala mais câmeras e atira mais balas de borracha nos professores em greve; ao passo que destrói casas e bairros construídos com suor e autonomia corajosa.
Escolher como patrono um pedreiro é apenas um lembrete acerca do compromisso ético que firmamos enquanto arquitetos, de entender quem são os Amarildos, onde moram, como moram, porque moram. Mais que fazer uma homenagem, afirmamos: somos também Amarildos e seguiremos perguntando por ele e por todos os outros."
Muito bonito... Mas.. será que parte desses formandos em arquitetura, em algum dia de suas vidas profissionais... prestará um serviço em prol de pessoas que não tem como pagar por seus serviços? Ou será que vão trabalhar só para os que possuem poder aquisitivo pra isso? O caso do ajudante de pedreiro ganhou a força que deveria tomar mediante a tantas hipocrisias e damagogias. Certeza eu só tenho de uma coisa. Ninguém estará impune... Parabéns a DH, a polícia honesta, ao governo, as pessoas envolvidas em querer que o Rio prospere e não só viva de ataques pontuais.
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