quarta-feira, 19 de março de 2014

Sobre a 'Marcha da Família com Deus pela Liberdade' e a Ditadura Brasileira

Por Adriano Espíndola Cavalheiro,
Especial para ANOTA

"Quando a história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. Karl Marx.

O enunciado de Karl Marx acima citado dá a dimensão da questão envolvendo a reedição da Marcha da Família com Deus pela Liberdade de 1964, cuja reedição está anunciada para os próximos dias. A 'marcha' original foi realizada às véspera do início da sanguinária ditadura militar, que se iniciou aquele ano, findando apenas em 1985, quando o último general, João Figueiredo, deixou o poder, em face do esgotamento do regime.

Essa Marcha, apesar do nome simpático a mais de 99% da população, pois traz em seu bojo valores nos quais praticamente todos foram educados (valorização da família, amor a Deus e a liberdade) é uma farsa, pois se fizermos um simples questionamento, uma pesquisa, de que tipo de família, de Deus e de liberdade que os seus organizadores defendem, rapidamente vem à tona o quão reacionária, retrógrada, direitosa e perigosa essa gente é!

São fascistas enrustidos, viúvas da ditadura, gente que usa o nome da família, de Deus e da liberdade, que defendem um regime sanguinolento que destrói famílias, liberdade e valores cristãos como o amor e a solidariedade e pousam de democratas!


Não sejamos enganados por jogo de palavras. Cuidado com as viúvas e viúvos da ditadura, que cinquenta anos depois, estão por ai defendendo a volta dos militares ao Poder, como se na época em que eles estiveram no poder após destituírem um presidente democraticamente eleito - refiro-me a João Goulart (conhecido como Jango) - não houvesse inflação, carestia de vida e, ainda corrupção.


Na verdade o que não havia no Brasil, durante o governo golpista era liberdade de imprensa, de organização política e sindical, de mobilização e de opinião. Na ditadura brasileira a imprensa e os artistas eram censurados, partidos de esquerda colocados na ilegalidade, deputados oposicionistas caçados, greve proibidas, diretorias de sindicatos destituídas. Era o que os militares faziam para manter o controle da situação, para sufocarem os pedidos de aumentos salariais e/ ou questionarem a violência dos gorilas fardados que tomaram de assalto o poder.

A manipulação da população que a Rede Globo faz (e hoje é percebida por muitos), teve início exatamente nessa época, quando os militares deram a Roberto Marinho a concessão (autorização) para seu funcionamento. Ela era um dos instrumentos do sistema, havia outros vendidos, é claro, para manipulação do povo.

Assim, não se falava da corrupção, pois a censura não deixava. Não se questionava a carestia de vida, pois aqueles que questionavam eram presos e torturados, o mesmo se dando com os que se voltavam contra o sistema, que eram classificados pelo governo e a imprensa chapa branca de terroristas.

Interessante é que hoje, cinquenta anos depois, exatamente sob o governo de uma mulher (Dilma) e um partido (PT) que combateram a ditadura militar, tramita no Congresso Nacional, sem oposição destes, projeto de lei, para atender o interesse da FIFA e dos grandes capitalistas brasileiros, projeto de lei que classifica como terrorismo manifestações populares!


Mas voltando ao tema deste texto, vale dizer que os militares brasileiros tomaram o poder por meio de um golpe de estado em 1.964, pois aquela época, ditaduras militares nos países pobres era o meio pelo qual, com o apoio de potencias supostamente democráticas como os EUA, as elites econômicas, nacionais e internacionais, gerenciavam - a partir do governo destes países - seus negócios. Hoje, preferem o gerenciamento por meio de governos eleitos pelo povo, de direita ou de esquerda, desde que estes não questionem verdadeiramente essa exploração. Se questionarem, são derrubados.

Encerro esse texto, parafraseando Cazuza, um dos poetas de minha geração, em uma letra escrita nos finais do anos 80 do século passado e que está totalmente atual: “As pessoas vão ver que estão sendo roubadas. Vai haver uma revolução ao contrário da de 64. Vamos pegar o dinheiro roubado da burguesia. Vamos pra rua Vamos pra rua!”

Na Copa vai ter luta!

Adriano Espíndola Cavalheiro é advogado militante e articulista da Agência de Notícias Alternativas. Mantém o blog Defesa do Trabalhador - (blog integrante da rede ANOTA). É militante da CSP- Conlutas. 
Contato: defesadotrabalhador@terra.com.br

A DIVULGAÇÃO, CITAÇÃO, CÓPIA E REPRODUÇÃO AMPLA DESTE TEXTO É PERMITIDA E ACONSELHADA, desde que seja dado crédito ao autor original (cite artigo de autoria de Adriano Espíndola Cavalheiro, publicado originalmente pela ANOTA – Agência de Notícias Alternativas)

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