por Carolina Agra, do Movimento Mulheres em Luta (MML),
especial para a ANotA
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Amanhã é uma data especial para as mulheres de todo o mundo: é o dia internacional de luta das mulheres. Diferente do sentido que é atribuído hoje em dia, de homenagear as mulheres pelas suas características femininas e dóceis, a história do 8 de março é o da luta feita pelas mulheres trabalhadoras.
A data refere-se a uma greve feita nos Estados Unidos em 1857 em uma fábrica de tecidos pela diminuição da carga horária de trabalho (de 16h para 10h) e equiparação salarial com homens, já que na época as mulheres ganhavam 1/3 do salário. A greve foi duramente reprimida e as mulheres, trancadas e incendiadas dentro da fábrica. Cerca de 130 companheiras foram cruelmente assassinadas. Desde 1910, a partir de uma conferência internacional de mulheres socialistas, que incluía a revolucionária alemã Clara Zetkin que a data é atribuída a luta das mulheres.
O 8 de março também foi importante para a Revolução Russa de 1917, já que o início das mobilizações ocorreu nesta data (23 de fevereiro no calendário russo) em que centenas de milhares de mulheres foram as ruas por “Pão e Paz”, protestando contra o Czar Nicolau II e a participação da Rússia na Guerra Mundial, que levou o país à miséria e à fome, além das terríveis condições de trabalho, essa mobilização foi o estopim para a revolução socialista feita neste país.
Mesmo com essa história de luta, não há nada a comemorar nesta data. A ideologia machista que inferioriza a mulher na sociedade ainda é dominante como demostram as tenebrosas estatísticas de violência à mulher em nosso país: a cada dois minutos uma mulher é espancada, e a maioria dessas vítimas são as negras. Em 2012, mais de 50 mil estupros foram registrados, sendo as mulheres lésbicas o principal alvo dos estupros "corretivos". No Brasil, temos uma presidente mulher mas está cada vez mais claro que ela não governa para nós, já que prioriza-se o pagamento aos empresários e empreiteiros enquanto verbas para as políticas públicas para as mulheres diminuem. A lei Maria da Penha, que combate a violência a mulher, é um avanço, porém é falha na falta de verbas que refletem na falta de casas-abrigo e de delegacias de atendimento a mulher (DEAM). Com este cenário fica difícil reverter a alarmante violência que as mulheres estão submetidas.
No país da Copa em que R$ 30 bilhões foram investidos para o evento, a verba para as mulheres é de R$ 25 milhões, sendo que os grandes eventos trazem consigo mais uma marca desagradável: a exploração sexual, já que esta é a imagem repercutida pelo Brasil no exterior, de que as mulheres brasileiras, principalmente as “mulatas” são objetos sexuais a disposição dos turistas, como demostrado na infeliz campanha de camisas da Adidas.
Outras questões que interferem diretamente com as mulheres trabalhadoras são a falta de creches, a diferença salarial entre homens e mulheres (cerca de 30% a menos, e maior ainda com mulheres negras) e o transporte público precário, onde as mulheres são assediadas sexualmente, além da falta de transporte noturno em muitas cidades, o que expõe a mulher a riscos de assédios e estupros nas ruas.
Por todas essas razões, não há muito o que comemorar neste 8 de março, e sim lutar! Pelo fim do machismo e de todas as opressões, além da exploração. Por isso, entidades feministas - como o Movimento Mulheres em Luta - convocam diversas atividades neste sábado e em dias posteriores. No Rio de Janeiro, teremos no dia 8 o “Arrastão feminista”, a partir das 14h na Lapa, e na segunda, 10/03, um ato político com concentração às 17h na Candelária. As pautas são:
- - Chega de dinheiro para a Copa! Queremos dinheiro para o combate a violência, saúde, educação, moradia e transporte!
- - Contra o machismo, racismo, lesbo/trans/bifobia!
- - Não à bolsa estupro! Educação sexual para não engravidar, anticoncepcionais gratuitos para não abortar e aborto legal, seguro e gratuito para não morrer.
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