terça-feira, 13 de agosto de 2013

Grupo organizado nas manifestações de junho está acampado há um mês em frente ao Congresso Nacional

Por Ademar Lourenço, de Brasília
  
 “Isso aqui não tem nada a ver com partido. Não somos uma organização”. Era o que repetia a cada dez minutos de entrevista os membros do acampamento que está em frente ao Congresso Nacional. Eles defendem, entre várias causas, uma proposta de reforma política. Segundo um dos membros do movimento (“Não temos líderes”, outro mantra repetido várias vezes), eles estão lá desde o dia 5 de julho e não têm data para sair.

   A referência dos manifestantes está nos vários acampamentos realizados pelo mundo. Um exemplo foi as milhares de pessoas que ocuparam praça Tahir, no Egito, movimento que culminou na queda do ditador Hosni Mubarak em 2011. Na Espanha, nos Estados Unidos e na Turquia as pessoas também armaram barracas em locais públicos para fazer protestos.

   Eles dizem ser cerca de 50 pessoas vindas de vários estados. Tem gente de Pernambuco, Roraima, Brasília e de outros lugares. Brasileiros de várias idades e profissões. Segundo os próprios membros do acampamento, eles se conheceram pela internet e nas grandes manifestações que tomaram conta do país em junho deste ano.

   “As manifestações não pararam e não vão parar”, diz um dos acampados. Apontando para uma máscara do grupo anonymous no teto da barraca, ele explica que “este movimento é viral”. Para o manifestante, a onda de mobilizações está crescendo e ficando cada vez mais articulada. Ele diz que o acampamento de Brasília tem contato com outros, como a ocupação da câmara de vereadores do Rio de Janeiro.

   Apesar de “não ser uma organização” e “não ter líderes”, o grupo é articulado. Estendeu várias faixas na esplanada dos ministérios, fez página no Facebook, posta vídeos e faz transmissões ao vivo pela internet regulamente, além de já ter entregue pauta de reivindicações no Congresso Nacional. Eles informam que tudo é sustentado por cotizações dos integrantes e doações de apoiadores.

Salada mista

   As causas que levaram essas pessoas a montarem as barracas são as mais diversas e vão desde o fim da biopirataria até o voto distrital. O principal eixo é o combate a corrupção. Fim do voto obrigatório, revogabilidade dos mandatos dos parlamentares e perda de mandato para políticos condenados por improbidade administrativa estão entre as reivindicações do grupo. Uma carta enviada ao Senado Federal exige mudanças que vão de bandeiras da esquerda até pautas de grupos conservadores.

   A carta pede o aumento imediato do salário mínimo para que ele fique de acordo com o definido pela Constituição. Essa bandeira é defendida pelo Partido da Causa Operária (PCO), de esquerda, que propõe salário mínimo de R$ 2.800,00. No entanto, a mesma carta defende a reforma do código penal brasileiro. A reforma atualmente proposta reduz a maioridade penal. A causa é ardorosamente defendida pelo partido Democratas (DEM) e grupos de direita.

Vários acampamentos

O que parece ser um só são na verdade "vários" acampamentos. Surgidos um ao lado do outro, cada qual com reivindicação. O mais antigo é o dos agentes penitenciários, em torno à demandas da categoria, em uma espécie de "vigília", pela defesa da aprovação de leis específicas que já antecediam a jornada de protesto do mês de junho. Formou-se depois um acampamento dos peritos de polícia, especificamente dos papiloscopistas. Na sequência, outras pessoas, não necessariamente ligadas a grupos ou categorias profissionais, foram se agrupando no mesmo local com suas próprias reivindicações, mais próprias das vistas nas manifestações de junho, ficando lado a lado dos primeiros grupos, dando ao atual formato ao "grande acampamento" visto agora pelos brasilienses que por lá passam.


(Atualizado em 20/08/2013)

2 comentários:

  1. as pessoas que deram essas entrevista são infiltrados no acampamento dos agentes penitenciários que são os verdadeiros idealizadores desse movimento que nada tem a ver com o que foi falado nessa matéria. O nosso pleito é outro, brigamos pelo direito à vida do agente penitênciário, procurem se informar melhor antes de publicarem algo

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  2. Essas pessoas não são "infiltrados", apenas aconteceu que surgiu um outro acampamento, ao lado do acampamento originário dos agentes penitenciários, em torno a outras reivindicações.
    E isso é um fato jornalístico interessante ao público.
    Como também, à princípio, de nada diminuí a importância da luta dos agentes penitenciários.

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