quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Se não fosse o racismo, não existiria o “rolezinho”

por Ademar Lourenço, de Brasília

O primeiro “rolezinho” da história foi no dia 1º de fevereiro de 1961, na cidade norte-americana de Greensboro, no estado da Carolina do Norte. Não, ninguém estava tocando funk. Na verdade, o que incomodou foi o silêncio. Quatro jovens negros se sentaram em uma lanchonete e esperaram ser servidos. Era uma lanchonete onde só brancos poderiam frequentar. Sem resposta, continuaram sentados, se negando a inclusive a respoder às provocações das pessoas. Causaram um alvoroço na cidade inteira e depois no país.

“São pessoas como vocês que nos causam problemas. Vão lá para baixo, se querem comer” advertiu uma garçonete. Parece que em mais de 50 anos as reclamações são parecidas. O “rolezinho” que começou uma grande mobilização pela igualdade racial no mundo inteiro ainda não conseguiu alcançar seus objetivos. Mas pelo menos as leis de segregação nos Estados Unidos foram banidas.

Jovens ouvindo música e flertando incomoda?  Também não incomoda os playboys em seus carros no meio trânsito, nas seis da manhã de uma puta segunda-feira com o som tocando alto no centro da cidade?  Porque ninguém reclama? Porque não chama a polícia para reprimir carnaval de rua que cobra abadá a R$ 400,00? A discussão não é sobre sossego público ou lugar para se divertir. É sobre RACISMO.

O fenômeno pode ser uma estupidez de adolescente. Mas afinal, adolescentes brancos e bem vestidos são estúpidos o tempo todo e nem por isso são espancados pela polícia como foram os participantes dos últimos "rolezinhos".  E olha que pelo menos ninguém no rolezinho nunca queimou uma pessoa na rua, como os playboys gostam de fazer de vem em quando.

O “rolezinho” pode ser explicado pela aquela lei básica da física: toda ação tem uma reação. Simples assim. O negócio incomoda e o objetivo talvez seja esse mesmo. Uma pessoa negra se sente incomodada toda a vez que é barrada em um lugar pela cor de pele, sabia?  

Não, os jovens que vão para um shopping center tocar funk não tem o grau de politização dos quatro se sentaram em uma lanchonete em Greensboro. Sim, pode ser que ali aconteçam coisas reprováveis. Quem rouba em um rolezinho está sujeito a ser preso. Quem rouba em um bloco de carnaval caro também deveria. O importante é que o pessoal do "rolezinho" quebrou o tabu. E isso incomoda demais quem pensa que “o aeroporto virou uma rodoviária depois que pobre tem dinheiro para andar de avião”. 

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