quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

A cultura maquiada do Santa Marta

por Rafaella Barreto, do Rio de Janeiro (RJ)
especial para a ANotA

Foto: Rafaella Barreto
A visita ao Santa Marta, primeira favela a receber uma UPP (Unidade de Polícia Pacificadora), serviu para perceber a grande diferença entre a UPP midiática e a realidade vivida pelos moradores do local depois da implantação do modelo pacificador.


Antes, a grande questão era o tráfico de drogas, e a UPP surgiu para sanar esse problema. Agora, como não existe mais o tráfico, os direitos dos moradores são atingidos. Dentre eles, a produção de eventos culturais locais.



O controle e a repressão policial sofrida pelos moradores dentro do Santa Marta é tão absurdo que chega ao ponto de coibir reuniões entre amigos e até confraternizações em família, pelo simples fato de não ter uma autorização da PM. Segundo a guia local, Sheila Souza, uma festa que já estava marcada não foi realizada por causa do processo burocrático exigido pela polícia, como extintores de incêndio e a presença do corpo de bombeiros, por exemplo. "Festas sempre foram feitas na favela, e nunca foi preciso cumprir nenhum desses pré requisitos", disse Sheila. E a cada dia novas exigências surgem, aumentando a dificuldade de promover qualquer atividade cultural para o povo que ali vive.



As opções culturais no Dona Marta (nome do morro onde está situada a favela) para seus moradores, quando realizadas, são de resistência, pois até as suas músicas sempre estão atreladas à questão da apologia ao tráfico, à droga, e suas letras não passam pela ditadura militar instaurada com a Unidade Policial Pacificadora. 



Já na UPP explanada pelo Governo, o principal atrativo cultural na Favela Santa Marta para a população é o famoso "Pôr do Santa - cerveja, feijoada e samba". Apontado como uma das grandes melhorias que a favela vem recebendo desde a sua pacificação. 



É preciso destacar que, apresentar ao turista o que tem de bom no morro não tem nada demais. O problema é a grande diferença, na prática, do que se mostra e o que se vive. Churrasco, música, diversão, tudo isso pode, desde que não seja de quem mora lá, para quem mora lá. Isso tudo porque conhecer favela pacificada, como aparece na novela da Globo, está na moda, porque é exótico. Mas, morador convidar amigos e familiares pra seu chá de bebê, ou o aniversário do seu filho, é perigoso para quem não é dali. E, por isso, não pode.

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