terça-feira, 10 de junho de 2014

Entrevista coletiva e problemas marcam inaguração do Centro Aberto de Mídia da Copa do Mundo

por Rodrigo Barrenechea, editor, do Rio de Janeiro

Faixa de pedestres em Copacabana tem pinturas contrárias à Copa
Fotos: RB
  Nesta terça, 09/06, o governo federal inaugurou o CAM - Centro Aberto de Mídia, localizado no Forte de Copacabana, Rio de Janeiro. O objetivo da instalação é fornecer estrutura para os jornalistas e veículos de imprensa fazerem a cobertura da Copa, ajudando no envio de matérias, fotos, vídeos etc., especialmente para aqueles que não montaram seus próprios centros de imprensa. No entanto, vários problemas marcaram seu primeiro dia de funcionamento. 

Localizado numa área militar, tem uma bela aparência, com mesas para os profissionais montarem seus laptops, com conexão de internet tanto por cabo quanto sem-fio, assessoria de imprensa, releases com as pautas, entre outras facilidades. Porém, os problemas começaram com o credenciamento dos jornalistas, cuja maioria fez cadastro prévio pelo site do CAM. Ao chegar lá, o sistema estava fora do ar, impedindo a emissão dos crachás. Além disso, por várias vezes a rede de internet caiu, o que impedia também o envio das matérias e travava a comunicação pelos celulares por meio de wifi. Contudo, a equipe disse que não seria necessário estar credenciado para participar da coletiva que foi convocada para inaugurar o CAM, que homenageia João Saldanha - festejado como jornalista e especialista em futebol, mas cujo passado como militante do PCB foi obviamente ignorado.

  A coletiva teve a presença dos ministros da cultura, Marta Suplicy, do esporte, Aldo Rebelo,
Inauguração do Centro de Mídia contou com
vários problemas técnicos. Em detalhe, o governador Pezão

da secretaria de comunicação social da presidência da República, Thomas Traumann, além do governador do Rio Luiz Fernando Pezão e de um representante da Prefeitura, já que Eduardo Paes não compareceu. Foi uma verdadeira sessão de pancadaria por parte da imprensa ali presente. Após uma exposição inicial e do descerramento de uma foto de Saldanha, que serviu como placa de inauguração, os jornalistas, em sua maioria, tocaram em temas delicados para as autoridades, como o esquema de segurança para a Copa, a violência nas favelas, as greves e protestos durante a competição e os gastos nos estádios.


Ministros se defendem de perguntas embaraçosas da imprensa brasileira e estrangeira

  A ministra Marta Suplicy, perguntada sobre a greve dos servidores da cultura, que
Marta Suplicy recomenda aos turistas
que encontrem outros museus se a
greve da cultura não terminar logo
realizavam protesto do lado de fora do Forte e mantém os museus federais fechados, esquivou-se. Após afirmar que o governo já acionou a justiça para tentar encerrar a greve, ela afirmou que os museus subordinados ao ministério são uma minoria, tendo os turistas "várias outras opções de museus" para visitar. Ou seja, não apresentou uma solução que passasse pela negociação com os trabalhadores em greve, apontando tanto para uma criminalização do movimento quanto para simplesmente "esconder" o problema...


  Já Pezão foi questionado por um jornalista estrangeiro sobre se haveria o risco de novas manifestações das favelas em caso de violência policial. O repórter foi específico, ao lembrar do caso do dançarino DG, insinuando o risco de que uma ação policial desencadeasse protestos como vistos nas comunidades do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho. A resposta do governador foi que antes entrar numa comunidade era impossível, por conta da violência, e que o "grande legado da Copa no Rio de Janeiro é a política de pacificação". Os erros, como no caso de DG, estão sendo investigados e, se necessário, se "cortaria na própria carne". Talvez o pedreiro Amarildo não concordaria com o valor desse legado, se fosse localizado para dar sua opinião.

  Aldo Rebelo, por sua parte, foi bastante questionado pelos jornalistas presentes. Foi perguntado sobre as greves e protestos - segundo ele, sob controle, como no caso da greve
Aldo Rebelo diz que greve do Metrô já está
resolvida e que não houve problemas com os
custos de construção dos estádios
do Metrô de São Paulo. Para ele, isso já foi resolvido, por meio de decisão judicial - claramente desfavorável aos trabalhadores, que receberam um índice abaixo ao proposto pelo governo paulista e punidos com demissões e perda da estabilidade no emprego. Sobre manifestações, disse que as redes sociais vem sendo monitoradas, não ameaçando a realização da Copa. Ou seja, a competição justificaria espionagem contra pessoas do seu próprio país. Isso é mais uma prova que a Lei Geral da Copa é uma violação de direitos, ao suspender garantias legais e constitucionais.


  O ministro do esporte ainda teve que responder sobre os orçamentos da Copa. Um jornalista alemão perguntou sobre porque os estádios tinham diferentes custos de construção, sendo que o Mané Garrincha custou o triplo do estimado e o Maracanã, o dobro. Nessa, Rebelo usou de "malabarismo": disse que o Mané Garrincha teve várias estimativas de custo porque a "primeira foi simplesmente para inscrever a candidatura do país na Fifa", a segunda incluía apenas a reforma do estádio, já a terceira incluía a área externa e assim sucessivamente. Nisso, um outro jornalista perguntou, fora de sua vez de falar, sobre corrupção nas obras. O assessor de imprensa do governo irritou-se, querendo encerrar a coletiva, mas Rebelo quis responder, afirmando que o país tem instrumentos de fiscalização de gastos, como a Controladoria Geral da União, e que todos as denúncias seriam investigadas; mas já era tarde, o estrago estava feito.

  A coletiva terminou com a sensação de que as autoridades estiveram na defensiva o tempo todo, e os jornalistas, com bastante assunto para suas matérias. Ou seja: a ideia de que a Copa transcorreria em calma não "colou", a começar pela própria coletiva com a imprensa. O jornalista sentado ao meu lado assim comentou: "pelo menos foi divertida!"

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