Por Eduardo Tacto, presidente da ATFF-RJ
Apesar da influência significativa que o futebol tem na cultura brasileira, a figura da mulher se apresenta de forma tímida e oprimida, como comprova o Decreto Lei 3.199 de 1941, vigente até 1975, que proibia a prática de futebol para as mulheres.
Considerando o papel pedagógico das práticas corporais e esportivas torna-se necessário colocar em suspeição os discursos preconceituosos, com relação ao futebol feminino. Se o esporte é abre um espaço, que possibilita o exercício de sociabilidades, por que a prática feminina, no futebol, ao invés de ser incentivada, é considerada, em pleno século XXI, uma despesa e não um investimento, além de uma ameaça?
Internacionalmente o futebol feminino hoje possui o reconhecimento da FIFA, que organiza a Copa do Mundo, nos moldes da masculina, de quatro em quatro anos, desde 1991, além de mundiais de categorias de base (sub 20 e sub17), de dois em dois anos e também cursos para mulheres tornarem-se árbitras e treinadoras.
Em países como Estados Unidos, Alemanha, Noruega, Suécia, Japão, França e Canadá a modalidade tem boa aceitação cultural, organização e, por consequência, grande número de praticantes e nível técnico (coletivo) em estágio mais avançado que o do Brasil. Até os dias de hoje o Brasil nunca foi Campeão Mundial (em qualquer categoria) ou Olímpico de Futebol Feminino. Mesmo que não venha a ter as cifras milionárias do futebol masculino, o futebol feminino nestes países citados e mais alguns, está estruturado e possibilita retorno (também financeiro) à atletas, treinadores e demais profissionais atuantes no meio.
No Brasil temos uma situação totalmente inversa. Cresce o interesse da mulher pelo futebol, facilmente constatamos isso nos bares em frente à TV nas transmissões, nas arquibancadas dos estádios, na crônica especializada, na arbitragem e também nos campos e quadras. Aumenta também com isso, em idade cada vez mais precoce, o número de praticantes, a procura por Escolinhas de Futebol Feminino.
Apesar de termos centenas de meninas e mulheres, de norte a sul do país (muitas ainda esperando uma oportunidade para serem descobertas) com grande potencial físico e técnico (lembrando que Marta foi eleita a Melhor Jogadora do Mundo, pela FIFA, por cinco anos consecutivos), vivemos “uma total orfandade”, já que Ministério do Esporte, Confederação Brasileira de Futebol, Comitê Olímpico Brasileiro, Federações Estaduais e Clubes, com raríssimas e honrosas exceções, pouco ou nada fazem para mudar o quadro de desorganização vigente.
Aqui no Rio de Janeiro, a situação também não é muito diferente e as dificuldades são as menos. Temos uma grande quantidade de times e meninas que sonham e acreditam no futebol feminino, mas tem no preconceito, na falta de apoio e investimento, o pior adversário, muito mais difícil do que encontram dentro de campo.
Em contramão a esta realidade, algumas iniciativas vem dando certo. Recém-criada, a Associação Nacional do Futebol Feminino do Brasil tem trabalhado bastante para organizar a modalidade e lutar pela mudança deste quadro. Em nosso estado, destaca-se o trabalho feito pela ATAFF-RJ (Associação dos Times de Futebol Feminino do Estado do Rio de Janeiro), que em pouco mais de três anos de vida, já virou referência nacional pelo seu trabalho.
Organizando eventos no futebol de campo e salão, no society e nas praias tem tido iniciativas importantes e que vem dando certo. O projeto Seleção da ATAFF-RJ, embala o sonho das meninas de serem convocadas, onde meninas dos mais de 80 times filiados na entidade, que se destacam são chamadas para jogos importantes e já enfrentaram times como o New Jersey dos Estados Unidos e já tiveram oportunidade de jogar no Engenhão e Maracanãzinho.
Outro projeto interessante é o Prêmio ATAFF-RJ, evento que acontece todo mês de dezembro e premia em mais de cinquenta categorias as atletas destaque das modalidades do futebol feminino. Ano passado quem levou o prêmio de melhor jogadora do ano foi Letícia Lisieux do Mesquita Branca´s. “ O futebol representa algo muito importante em minha vida, sempre respirei esse esporte que é tão contagiante! Agradeço muito a Deus por ter me dado esse dom, jogo com alegria em meu coração, pois eu amo jogar futebol.
E fico muito feliz por ter sido eleita pela ATAFF-RJ a melhor jogadora, é esses prêmios que trás um estímulo para continuar a jogando o meu futebol alegre.
Não é a vontade de vencer que importa – todo mundo tem isso. O que importa é a vontade de se preparar para vencer.” Disse a atleta que foi eleita a melhor meio-campo, melhor jogadora do futsal e melhor atleta geral da premiação.
Já para Dara Ramalho, que com apenas 16 anos, “ O futebol é minha identidade. Quando eu jogo, me sinto bem comigo mesma e é meu remédio para tudo.” Enfatiza a atleta do Criciúma Futebol Feminino.
Já para a também jogadora do Criciúma Alaine Carla, o futebol tem muita importância em sua vida “O futebol feminino passa por muitos preconceitos e para mim não é um divertimento e sim uma coisa que eu necessito para ser feliz. Quando eu jogo todos os problemas vão embora!” diz emocionada a atleta. O time do Criciúma tem sido um dos destaques da zona norte e vem treinando forte no bairro da Tijuca.
Apesar de tanta importância para milhares de meninas a modalidade continua esquecida e deixada de lado. Nossas meninas ficam distantes dos seus sonhos e muitas acabam abandonando o esporte por conta de tantas dificuldades. Vamos sediar Olimpíadas e uma Copa do Mundo e se quisermos ter bons resultados precisamos investir e acreditar no futebol feminino que já deu e pode dar tantas alegrias para a nação.
Fica a pergunta: Até quando continuará a situação deste jeito?
Bom texto e boa iniciativa. Em 2011 eu escrevi sobre o machismo da CBF - http://www.webulicao.com/nerdmilitante/o-mal-resultado-da-selecao-feminina-de-futebol-foi-reflexo-do-machismo-da-cbf/
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