terça-feira, 27 de maio de 2014

Os novos caminhos do racismo

por Max Laureano, especial para a ANotA


O preconceito de credo e culto revela um aspecto
assustadoramente racista (Fotos: Max Laureano)
Percebe-se, a partir de algumas postagens em redes sociais, um crescimento de manifestações de ódio racial e intolerância religiosa ou da direita declarada: Os casos de violência online - que em inglês dá-se o nome de “flame war”, isto é uma interação hostil entre usuários da Internet - têm aumentado assustadoramente.

O programa do partido do deputado federal Jair Bolsonaro no começo do ano foi bem explícito em relação a isso. Uma pesquisa recente demonstrou que o discurso do ódio pregado por esse capitão-do-mato com carteira de deputado incentiva várias pessoas se organizarem, a se exporem à luz, longe dos pontos de encontro de extrema direita típicos.

As reações em fóruns e redes sociais sobre a decisão do juiz Eugênio Rosa, da 17ª Vara de Justiça Federal, que não aceitou o pedido do MPF para retirar vídeos do Youtube que continham mensagens de intolerância contra religiões afro-brasileiras – candomblé e umbanda, são exemplos disso.

A decisão de Rosa, em primeira instância, publicada no dia 1º de abril de 2014, dizia que “manifestações religiosas afro-brasileiros não constituem religião”, porque elas não conteriam “traços necessários de uma religião, de acordo com um texto-base,”, tais como a Bíblia para os cristãos ou o Alcorão para os islâmicos. O juiz ainda cita “ausência de estrutura hierárquica e ausência de um Deus a ser venerado”.

No dia 22 de maio passado, um grupo de pessoas do candomblé, da umbanda e alguns representantes dos povos indígenas foram ao prédio da Justiça Federal, no Rio de Janeiro, participar de uma manifestação contra a decisão do juiz. Este recebeu os seguidores de diversos segmentos das religiões de matriz africana, na parte da tarde.


No encontro com o juiz Eugênio, além de pedir que fosse retirasse o vídeo, foi falado como os ritos afros brasileiros têm sido sistematicamente atacados: templos estão sendo invadidos, crianças que professam seu axé estão sofrendo bullying em suas escolas, pessoas perdendo emprego ou não sendo contratadas, ao serem barradas em processos de seleção de emprego, despedidas ao fazerem seus ritos de iniciação. Assim como pessoas que são impedidas de andar de branco em suas comunidades, existem muitos casos relatados de agressões físicas, verbais e sociais. Os casos não são mais de intolerância, mas, sim de violência religiosa, por parte de membros de um setor de igrejas neopentecostais, e isso está chegando a níveis alarmantes.

Foi dito para o juiz Eugênio Rosa de Araújo, com todas as palavras: está em curso um inicio de uma guerra santa neste país, baseado no Racismo, decretada unilateralmente. E que a decisão judicial dele, de que Candomblé e Umbanda não são religiões, ajudaria, e muito nesse processo.

De forma implícita, o juiz jogou a bola para que o movimento das pessoas que apoiam as religiões afro-brasileiras deveriam se mobilizar, exercer pressão sobre a Justiça Federal, através do que fosse possível: redes sociais, abaixo assinados, visita a parlamentares e juízes.

Mesmo que o juiz Eugênio Rosa de Araújo tenha voltado atrás na decisão de dizer que não são religiões, ele não voltou atrás na sentença, mas na fundamentação. Não atendeu ao pedido do Ministério Público, para que o Google retire os vídeos. O que deixou a entender para aquelas pessoas - as quais estariam disseminando o preconceito, a intolerância e a discriminação a religiões de matriz africana com mensagens que transmitem discursos do ódio e incitam a violência - foi que elas podem continuar impunemente seu trabalho.
Ato contra intolerância religiosa sofre ataques virtuais e organizadores
tem perfis invadidos em redes sociais
Tanto foi assim que a página do evento que organizou a manifestação contra a decisão do juiz numa rede social foi atacada na noite do mesmo dia, sendo posto os dizeres “Bíblia, sim. Constituição, não!”. Da mesma forma, vários ativistas tiveram seus perfis invadidos. Isso mostra que as agressões de racistas, praticando intolerância religiosa, continuam fortes.

Não, o Racismo brasileiro não mudou! O racismo institucional brasileiro, aquele mais enraizado, que nem se percebe, e só se repassa, achou um caminho fértil nas redes sociais, novidade na qual, teoricamente, se escreve o que se quiser, sem censura. Com a desculpa de que é só uma “piada inofensiva”, ataca, humilha o povo negro e sua história. Os exemplos são vários, muitas páginas se escondem como se fossem fãs de determinadas “celebridades”, que fazem piadas racistas, como o apresentador e comediante Danilo Gentili (o qual perguntou a um redator negro que o processou “Quantas bananas você quer pra deixar essa história pra lá?”), ou a dupla Luciano Huck e Neymar, que com a campanha #SomosTodosMacacos, justifica o racismo ao naturalizá-lo.

Um comentário:

  1. Parabéns companheiro Max, pela denúncia clara e contundente feita através deste texto! \0/ Axé!

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