Páginas devem voltar ao ar até terça-feira. Agressão revela métodos de quem não tolera liberdade de expressão. Em breve, novidades editoriais e plano para criar rede de apoiadores
É provável que, em algum momento, nas próximas 24 horas, os sites de Outras Palavras voltem ao ar. Os vírus que haviam sido implantados em nossos servidores no final da noite de sábado (veja mensagem que enviamos ontem, ou notícia em
nossa página do Facebook) foram removidos – aparentemente, por completo. Uma nova varredura foi solicitada ao Google, para que constate o fim da invasão e deixe de enviar alertas a quem visita
www.outraspalavras.net. Um trabalho suplementar, de correção de eventuais sequelas e tentativa de identificar os agressores, começará assim que for possível visualizar o estado de nossas bases de dados e a aparência dos sites.
O que foi possível apurar até agora ajuda a compreender como agem, na internet, os que temem a liberdade de expressão. A partir das primeiras horas desta segunda-feira (9/7), o Google forneceu uma primeira relação de 26 páginas de Outras Palavras que haviam sido infectadas, cerca de 24 horas antes. A tática dos agressores foi tirar o site do ar por meios indiretos. Eles introduziram, em nossos códigos, programação que pode contaminar os computadores de quem busca nossas informações e análises. Sabiam que, em seguida, estas ameaças seriam detectadas e, na prática, bloqueariam o acesso a nosso conteúdo. Quem se atreve a visitar um espaço na web qualquer, ao de ser avisado de que “www.outraspalavras contém malware. Seu computador pode ser infectado por um vírus, se você visitar este site”?
Mas de onde vieram os ataques? Por volta das 23h de sábado, minutos depois de constatada a invasão, solicitamos de nosso atual serviço de hospedagem (o
Dreamhost) uma varredura em todos os nossos bancos de dados. A resposta chegou na tarde desta segunda, na forma de um vasto relatório. Ele revela que, nos últimos trinta dias, o espaço interno de administração do site foi acessado a partir de sete pontos na internet (IPs): três deles estão no Brasil, como é natural. Porém, há também acessos feitos da França, Grã-Bretanha e Lituânia. “Isso pode indicar que suas senhas foram invadidas”, diz Dreamhost. Para nós, é algo óbvio. Nenhuma das pessoas autorizadas a fazer intervenções importantes na arquitetura de Outras Palavras reside ou passou por nenhum destes três países, no último mês. Ou os invasores estão lá; ou usaram, como disfarce, sistemas que despistam sua origem.
Como nossas senhas foram roubadas? O próprio relatório do Dreamhost ajuda a entender. Uma das brechas mais prováveis são os computadores que usamos para alimentar os sites. Se algum deles tiver sido infectado por um vírus do tipo cavalo-de-tróia, a senha de acesso aos sites pode ter-se tornado vulnerável.
O ataque ajuda a identificar nossos calcanhares-de-aquiles. Lançado há pouco mais de dois anos, Outras Palavras cresceu rapidamente. Sua audiência está próxima de 5 mil leitores/dia. Atingimos a meta sem concessões. Mantemos um esforço permanente pela profundidade, por destacar o que os grandes meios esforçam-se em ocultar, por buscar ângulos inéditos e surpreendentes em nossas análises, por valorizar soluções estéticas inovadoras nas imagens e desenho gráfico. Mas nossa estrutura financeira e material ainda é frágil – em parte, porque todo o trabalho concentrou-se, nestes dois anos, na busca de qualidade editorial.
Agimos para superar estas lacunas. Precisamente em julho, mês em que sofremos o ataque, estamos iniciando uma nova ampliação editorial e um plano para dar sustentabilidade material ao site. Desde 2/7, uma equipe de cinco novos colaboradores está em nossa redação, conhecendo os meandros de Outras Palavras.. São jovens (entre 20 e 25 anos), ágeis e rápid@s. Em breve, começarão a produzir. Além de textos, a concretização de uma mudança gráfica; a criação de uma web-TV; a formação de uma rede de apoio e participação no site que buscará envolver nossos leitores.
Dezenas de pessoas responderam, desde domingo à noite, à primeira mensagem em que relatamos a agressão sofrida. Em alguns casos, transmitiram sugestões que estão sendo úteis no resgate; em muitos outros, comunicaram seu apoio ao trabalho que fazemos e sua confiança na recuperação do material produzido. Este apoio foi e será cada vez mais importante.
A invasão é desagradável e dispersa momentaneamente energias, mas passará em breve – mesmo que seus efeitos tenham sido maiores do que supomos. Quando você puder acessar
www.outraspalavras.net sem receber alerta de vírus, os inimigos da liberdade de expressão terão sido derrotados mais uma vez. O ritmo de nossas atualizações vai diminuir, nos primeiros dias após o choque. Mas voltaremos muito mais fortes, em seguida – e, em especial, mais capazes de envolver, em Outras Palavras, gente que quer batalhar de forma ativa por outra comunicação e outro mundo.
Mando, em nome de toda a equipe, nosso abraço afetuoso
Antonio Martins
Editor