quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Empreiteira do Comperj deixa trabalhadores na mão depois de ser citada na Operação Lava-Jato

por Rodrigo Barrenechea, direto de Niterói

Fotos: RB
A crise chegou com força ao Comperj. Assim como outras obras da Petrobrás, o Comperj - Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro - tem sofrido com os escândalos de corrupção que envolveram as empreiteiras e a estatal petrolífera. Agora, uma das construtoras, a ALUSA/ALUMINI, depois de constar nas investigações da Polícia Federal durante a Operação Lava-Jato, deixou os trabalhadores sem salário ou sem emprego.

Desde setembro do ano passado, já são 469 demitidos; os que perderam o emprego a partir de outubro fizeram um acordo para receber a recisão mas a empresa não cumpriu com o acertado. Eles não receberam nem a 3ª e última parcela do acordo nem os 40% do FGTS a que tem direito. Ainda mais: as cotas do fundo do restante dos trabalhadores não são depositadas há pelo menos 3 meses. Já os que não foram demitidos enfrentam uma difícil situação: não recebem salários e também não conseguem baixa em suas carteiras de trabalho. 


Até o momento, são 123 empregados com 2 meses de atraso no salário e 2380 com 1 mês de atraso. Uma parte deles também não recebeu a segunda parcela do 13º.

Mas a situação não se resume a atrasos nos salários. Muitos dos trabalhadores vêm de outros estados, em busca de emprego e salário. Estes não tem alojamento oferecido pela empresa, sendo obrigados a alugar casas em Itaboraí e Rio Bonito, cidades próximas à obra. Isso seria uma manobra da construtora para parecer que ela contrata mais gente do Rio e menos de fora, diminuindo os custos. Da mesma forma, o refeitório da empresa foi desativado desde o mês passado, deixando os operários do canteiro sem alimentação. Mesmo no setor administrativo não é diferente. 

A reportagem apurou que funcionários do escritório da ALUSA, no Rio, só tem trabalhado à tarde, pois a empresa não estaria pagando o almoço dos funcionários. Nesse escritório, a maior parte dos empregados já foi dispensada, ficando uma equipe mínima, apenas para atender aos diretores da empresa. Um exemplo da gravidade do caso é a de uma trabalhadora, vinda do Maranhão, com um filho em coma prestes a ter os aparelhos que mantêm sua vida serem desligados. A ALUSA deve a ela R$10 mil, mas ela nem dinheiro tem para voltar a sua cidade e se despedir dignamente de seu filho.
 
Na manhã desta quarta (14), o Ministério Público do Trabalho convocou uma audiência de conciliação, para a qual foram convocados a empresa e os trabalhadores, representados tanto pelos dois sindicatos, Sindicon (Construção Pesada) e Sintramon (Montagem Pesada) quanto por operários da obra. 

Além destes, foram chamados representantes do sindicato patronal, do Consórcio das empreiteiras do Comperj e da Petrobrás; o Sindipetro-Rio, que representa os funcionários da estatal, esteve presente mas não participou da audiência, a pedido do representante do Sindicon. No entanto, o mais grave é que a ALUSA/ALUMINI tampouco esteve presente. Enquanto isso, os trabalhadores que permaneceram na entrada do Comperj, ao tentar impedir a entrada de um dos carros da empresa, foram reprimidos pela Polícia Militar a golpes de cassetete e jatos de spray de pimenta.


  Assim, os trabalhadores saíram de lá sem nenhuma solução prática, pois a empresa não se posicionou se vai demití-los ou pagá-los. Neste momento, por força de uma medida liminar, todo dinheiro que entra no caixa da ALUSA vai para o pagamento dos trabalhadores da Refinaria Abreu e Lima, em Ipojuca-PE. Ou seja, nem se a empreiteira buscar recursos na Petrobrás ou em bancos, os operários do Comperj verão a cor de seu dinheiro.

Os sindicatos e movimentos sociais que apareceram na audiência em apoio, como o Sindsprev-RJ, a ADUFF (seção sindical do ANDES-SN) - filiados à CSP-Conlutas -, ou o
Sindipetro-Rio, se comprometeram em ajudar com alimentos e transporte para um protesto a ser realizado no Edifício Sede da Petrobrás, e a construir uma rede de solidariedade aos trabalhadores.

Aos trabalhadores, por sua vez, resta lutar por seus empregos e a confiar que a melhor chance para isso é que a Petrobrás emcampe a construtora, garanta os trabalhadores e pague os salários e atrasados.

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