sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Debate sobre a comunicação dos e para os trabalhadores abre 1º Seminário de Comunicação da CSP-Conlutas

por Rodrigo Barrenechea, direto de São Paulo


Fotos: Rodrigo Barrenechea e Regina Gomesas
Teve início nesta sexta, em São Paulo, o 1º Seminário de Comunicação da CSP-Conlutas. Cerca de 80 pessoas, representando sindicatos, movimentos sociais e coletivos de mídia de todo o país, estão reunidos para discutir o papel da imprensa e da comunicação nas lutas da classe trabalhadora. As diferentes mesas estiveram levantando questões importantes sobre uma comunicação para os trabalhadores, assim como houve uma intensa troca de experiências entre os participantes.

A mesa de abertura abordou os "Desafios da comunicação dos trabalhadores hoje" e foi coordenada por Cláudia Costa, da comunicação da CSP. Dela participaram Cláudia Santiago, do Núcleo Piratininga de Comunicação, José Arbex Jr, professor de jornalismo da PUC-SP, e Mauro Puerro, pela CSP-Conlutas. Cláudia Santiago começou relembrando o passado de vários presentes nas lutas políticas e sociais desde os anos 1980. Saudou uma nova geração de militantes que está se interessando pela questão da comunicação sindical e popular. Além disso, apontou a necessidade de manter ligações estreitas entre os movimentos sociais e estruturas sindicais e políticas, no caso especifico da comunicação, buscando manter um horizonte sempre amplo de informação para além das pautas mais específicas de cada movimento.


Por sua vez, Arbex colocou um primeiro aspecto fundamental da grande imprensa burguesa: apesar do caráter deformado, nos aspectos morais e epistemológicos, ela tem um caráter sempre atraente ou, nas palavras dele, "seduzente". Por isso, a necessidade de sintonia entre as expectativas do público e as publicações da classe trabalhadora. 

Nesse sentido, ele relativiza a importância de novas mídias; o que as torna importantes não é seu caráter em si, mas a situação da realidade, da luta de classes. Diz que não foram as mídias sociais que impulsionaram eventos como a Primavera Árabe, mas a real situação de pobreza do Egito. O papel dos comunicadores da classe trabalhadora, então, não é "prever o futuro da luta de classes" - o que ninguém é capaz de fazer -, mas fazer a análise correta do seu presente.

Já Puerro, ao trazer para a discussão o poema "Tecendo a manhã", de João Cabral de Melo Neto, apontou duas características da linguagem que afetam uma comunicação dos trabalhadores. Em primeiro lugar, a necessidade dessa comunicação ser fruto de um esforço coletivo, de forma a manter sua autenticidade; segundo, o fato de que a linguagem ter diversas funções para além do significado mais simples, como a possibilidade de encantar as pessoas, por meio de sua função emotiva. Isto é, para Puerro, uma comunicação para os trabalhadores deve levar em conta não apenas o que a classe quer ouvir, mas como quer ouvir esse conteúdo.

Palestra de Vito Gianotti destaca desafios da linguagem sindical

Na parte da tarde, Vito Gianotti, do NPC e autor de diversos livros sobre comunicação sindical, levantou diversas questões sobre a linguagem utilizada pelas publicações da imprensa. Tanto os grandes meios quanto a comunicação dos trabalhadores, segundo ele, devem ter a preocupação de adequar seus textos ao vocabulário da maioria da população. Em função tanto de uma herança colonial de pouca educação dada às classes populares quanto pelo caráter cada vez mais mercantil da formação escolar atual, as pessoas leem cada vez menos e dominam um conjunto de palavras cada vez menor. Daí a necessidade de construir textos mais simples, com palavras de fácil entendimento, tanto para quem tem mais escolarização quanto para quem tem menos.

Isso pode ser conseguido de duas maneiras: através da construção de um texto com frases mais curtas, que prenda a atenção constante do leitor, e evitando o uso de um jargão mais especializado, os chamados "quês": juridiquês, politiquês, academiquês etc. Dessa forma, Gianotti aponta para a existência de um vocabulário composto desses todos "quês" e de difícil entendimento: o "sindicalês". Assim, por meio de um esforço consciente dos dirigentes sindicais e dos profissionais de comunicação, a linguagem pode e deve ser simplificada, de forma a alcançar cada vez mais pessoas.

Os grandes meios de comunicação sabem disso. Já faz muito tempo, segundo ele, que a grande imprensa dos ricos faz pesquisas sobre vocabulário e formas de linguagem. Ele lembrou do caso da visita de um grupo de professores de jornalismo da USP à Rede Globo, onde William Bonner - editor-chefe do Jornal Nacional - comparou mais de uma vez o espectador médio a Homer Simpson ou a Lineu Palhares, protagonista d'A Grande Família. Ambos pessoas bem intencionadas mas com pouco nível de compreensão. Bonner afirmou que o que ele tenta fazer no JN é que as notícias sejam entendidas tanto por pessoas pouco escolarizadas quanto por com muita formação acadêmica, sem irritar nem a um nem a outro. O que Gianotti quer apontar, com esse exemplo, é que se os grandes meios fazem isso, a imprensa dos trabalhadores deve ainda mais se esforçar em chegar a seu público, pouco instruído mas ávido de informações.

Mesa discute uso das redes sociais nos conflitos entre trabalhadores e patronal

O debate seguinte, "O mundo digital e as lutas", foi mediado por Samia Gabriela Teixeira, jornalista da CSP-Conlutas. Dele participaram Camila Lisboa, do Movimento Mulheres em Luta (MML) e diretora do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Danilo Dara, do Coletivo Mães de Maio, e Herbert Claros, funcionário da Embraer e vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos. O assunto principal aqui foi como as organizações de trabalhadores, de luta popular ou por direitos humanos fazem uso das redes sociais, como o Facebook, o Twitter ou o WhatsApp.

Camila Lisboa ressaltou a importância das páginas do Facebook na disseminação de informações e discussões sobre temas feministas, no caso do MML, ou como foi construída uma rede de solidariedade com a greve dos metroviários em São Paulo, por meio do uso das chamadas "hashtags". Esse mesmo tema foi aprofundado por Claros, que mostrou como a recente greve da Embraer foi organizada usando o WhatsApp e as páginas do Facebook. Mas ele levantou um aspecto diferente aqui: a utilização simultânea, por parte da empresa, das mesmas ferramentas.

Já Danilo lembrou dos diferentes momentos de violações de direitos humanos em São Paulo, como o Massacre do Pinheirinho ou os dois incêndios da Favela do Moinho. Um elemento relevante disso é que, na medida em que crescia a rede de solidariedade para com essas comunidades, aumentava a divulgação da página do Coletivo Mães de Maio, assim como a necessidade de divulgar ainda mais. Da mesma forma, aumentavam os ataques nas redes por parte da direita, levantando a necessidade de defesa coletiva dos grupos de direitos humanos como o Mães de Maio.

Documentário mostra luta contra o aumento das tarifas e embates entre esquerda e direita

Apresentada por Gisele Peres (CSP Pernambuco), o diretor do documentário "20 centavos", Tiago Tambelli, começou ressaltando a importância da exibição do filme, como momento que coroa todo o processo de produção do documentário. Tiago lembrou do seu ambiente familiar, já que é filho de um dos mais importantes advogados trabalhistas que atua em sindicatos, Antônio Tambelli. "20 centavos" surgiu como resposta ao processo de lutas iniciado com os protestos contra o aumento das passagens, em junho de 2013. Tambelli escolheu não esconder nenhum dos lados que apareceu nos conflitos ocorridos em junho. Segundo ele, foi importante mostrar a face de uma Direita que não está nos parlamentos ou nos governos. Não foi a intenção do diretor tentar explicar os protestos de junho; o que Tambelli queria era documentar os protestos, de forma que o que ocorreu não se perdesse na memória.

Segundo o diretor, sua proposta narrativa aparece na montagem. Começando com os protestos indígenas no Congresso Nacional, passando pelos protestos contra o aumento das passagens em São Paulo, Rio e Brasília e terminando com a questão negra nas periferias nas grandes cidades, Tambelli tenta mostrar no filme uma lição que os ativistas - especialmente de esquerda - devem aprender. Ou seja, a necessidade que a esquerda tem de aprender com seus erros e se preparar melhor para os embates. "O filme é uma lição para essa esquerda institucional que está no poder", afirma Tambelli.

A grande questão que está colocada no filme é tentar mostrar que rumos a esquerda precisava tomar após ter sido derrotada fisicamente pela direita no embate da Avenida Paulista, logo após a redução da tarifa do transporte. A saída por ele apontada é a construção de formas de poder popular, especialmente entre os mais pobres e em áreas de periferia.

Sempre, após cada debate, houve a participação dos presentes, falando sobre suas experiências e dando suas opiniões sobre os temas abordados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário