sábado, 8 de setembro de 2018

Adeus Odete Roitman!


Morre Beatriz Segall, a inesquecível Odete Roitman, a vilã mais odiada do Brasil!

Wellingta Macêdo

Beatriz Segall (Foto: Divulgação)
1988 era o ano. O povo brasileiro já vivia a desilusão da Redemocratização que prometera um Brasil feliz com a eleição indireta ( o povo não votou) em Tancredo Neves, mas Sarney virou presidente e a felicidade nunca chegou. Nas rádios, Cazuza lançara "Ideologia" e dizia que seus "heróis morreram de overdose", mas embalava os corações sensíveis com "Faz Parte do meu Show", a Legião já gritava desde o ano anterior "Que país é este?" e eu fazia a segunda série na escola José Veríssimo e levava pra sala um radinho pequeno de pilha, pra ouvir no recreio com minhas amigas. Na tevê, a Globo, na época que fazia boas novelas porque tinha bons autores, exibia no seu horário nobre "Vale Tudo", a novela que pedia pro "Brasil, mostrar sua cara" e falava de corrupção, mau caratismo e poder. Nessa novela nós tínhamos dois Brasis representados com as personagens Raquel (vivida por Regina Duarte) e Maria de Fátima (antologicamente interpretada por Glória Pires). Mas havia uma outra personagem que roubou a cena e as atenções dos telespectadores nessa novela: Odete Roitman, vivida pela grande Beatriz Segall, que nos deixou nesta quarta-feira, 5 de setembro, aos 92 anos.
Beatriz Segall como Odete Roitman (Foto: Divulgação)
Odete Roitman era a representação da mulher grã-fina, sofisticada e burguesa. Não só nos gestos, na educação, no porte, no dinheiro que tinha, mas especialmente nos preconceitos que carregava consigo e na forma de tratar as pessoas. Odete Roitman humilhava TODAS AS PESSOAS, que ela considerava abaixo de seu nível intelectual e pessoal. Sua irmã Celina, sua filha alcoolista ( uma vertente médica defende que o termo alcoólatra, está equivocado), seu neto romântico. Ela dizia frases do tipo: "Socialismo numa hora dessas não dá, né?" ou "Eu gosto do Brasil. Acho lindo, uma beleza. Mas de longe, no cartão postal. Essa terra aqui não tem jeito. Esse povo daqui não vai pra frente, é preguiçoso. Só se fala em crise e ninguém trabalha?". Quando ela, (Odete) morreu, o Brasil parou. A MAGGI, que tinha o caldo de galinha mais vendido do Brasil na época, fez uma promoção para descobrir quem era o assassino e César Filho, fazia todas as noites a pergunta icônica: "Quem matou Odete Roitman?". Mamãe comprou vários caldos pra participar da promoção. E no final, pasmem, Odete Roitman, a vilã mais odiada do Brasil, foi morta por uma Mulher que morria de ciúmes do marido (nada mais Machista né?)
Beatriz Segall, uma vez em entrevista, disse que depois de viver Odete, a tevê só a chamava para fazer grã-finas. Ela revelou que tinha um sonho de interpretar uma "Mulher do Povão". "Mas o público não aceita", ela disse. Sei muito bem Beatriz como deveria ser difícil para você, viver sendo estereotipada pelas pessoas. Beatriz Segall foi uma grande atriz de teatro, televisão e cinema. Fez uma vilã inesquecível e para mim, a melhor que a teledramaturgia brasileira já produziu (Carminha foi fichinha perto dela). Representou muito bem a Mulher Burguesa e preconceituosa da sociedade capitalista que odeia pobres, chama empregadas de "secretárias", acha que Negro nasceu para ser Escravo e tem um pensamento elitista, achando que só a Europa é "civilizada". 
Odete Roitman, provavelmente votaria em Amoedo pra presidente, mas concordava com algumas ideias de Bolsonaro, visto que pensava isso sobre Pena de Morte: "A única solução para a violência é a pena de morte. Para ladrão e assaltante, cortar a mão em praça pública. E se cortasse a mão dessa gente, diminuiria o índice de violência nesse país. Não tenha dúvida."
Obrigada Beatriz, por nos mostrar, através desta personagem, contra quem devemos lutar! Descanse em paz!

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